Inexato
Vem, amor, deita-te aqui comigo.
Deixa eu guardar meus sonhos nas
mechas dos teus cabelos molhados.
Sorrir neste nosso sonho antigo.
Deita-te no leito alvo desta paixão.
O que me dissestes há pouco,
na voz dos nossos corpos suados,
uniu-se à minha alma em contrição.
Meu desejo te possuiu à luz do dia.
Teus sussurros flutuavam até o chão.
Tua boca procurando o outro beijo,
saciava sua sede na nossa saliva.
No eterno dos teus olhos o sol nascia
e o mar, enamorado dos teus olhos,
dissipava-se em ondas sensuais
cobrindo de espuma o raiar do nosso dia.
O amor era este falar lascivo evocando os tons
deste desejo que fez de nós esta incompletude.
Há palavras que ainda vagueiam sôfregas
pelos lugares onde antes o prazer se deu.
Há afagos que em minhas mãos tateiam
pelo momento do gesto sutil que se
esconde atrás do toque.
Toque...
Sentir...
Sentir é este gosto delicado e escuso que vai
se revelando no momento em que somos um.
É este revelar o outro sem que uma palavra exista.
É esta singular agonia onde o tempo
escoa lento por entre os corpos..
Tudo é pureza e percepção...
Cada gesto, cada palavra,
alumiando o que o pensamento cria.
No íntimo da palavra, na essência do verbo
aninham-se simulacros profanos destas sensações.
Partir...
Sem ti...
Sem ti é este gosto ausente que vem sem você.
São as horas lentas a confundir o dia.
É o dia infindo a esperar a noite.
É o tocar ao longe os sinos bardos.
É a lágrima intacta.
O suspiro inerte,
intrínseco e
inexato!
Assim como inexatos são
o amor, a vida, a paixão.