Por que eu?
Olho para ti e pergunto: por que eu?
Estávamos tão sós.
Tu, tinhas a solidão.
Eu, a solidão me tinha.
Versos soltos a vagar em telas,
disseram meus sonhos
aos sonhos da tua emoção.
Em finos traços risquei as palavras que te dei.
No risco amador dos meus lápis
supus a tua dor.
No risco aprendiz de outras palavras
falamos de amor.
E nosso sonhos, nossos riscos, nossos lápis,
amaram-se no silêncio etéreo
dos nossos encontros.
O amor silenciou o vício dos nossos acasos.
Construiu futuros.
Ordenou saudades.
Conheceu o Tempo em suas passagens.
Entregou à vida o destino dos amantes.
A vida, assim, tão desenhada toma-me de espanto.
Tudo o que não sou revela-se a mim
como em tempos imemoriais.
A vela acesa sobre a lata é a
mesma vela acesa de tempos atrás.
As sombras que produz demandam luz e correção.
Meus medos, dizem de mim um passado hirto
a pedir imolação, resolução e resposta.
Tu não ignoras que para amar
é preciso amar-se, amar a si.
Tu bem sabes que a vida é paciência.
Sabe que o amor devora-se a si mesmo,
bebendo as imagens que o medo trás.
Rotundas a cobrir o palco.
O amor esconde-se nas gretas dos meus sentimentos.
Choro...
Um choro convulso dentro do imaginário.
A lágrima que escorre da minha emoção
perfura minha alma.
O dia passou e estivestes em meu sentimento
todos os segundos em que pensei em ti,
em que eu te senti.
A noite veio e com ela tu vens.
É o momento do nosso encontro.
Busco a ti como quem busca
a flor do vale que só vive um dia
Tu me chamas...
Eu vou ao teu encontro.
Estás em meus braços,
estou em meu medo...
Olho para ti e pergunto: por que eu?