A POÉTICA COSTURA O FIO DA VIDA

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From: Silverio de Bittencourt da Costa

To: joaquimmoncks@gmail.com

Sent: Monday, March 29, 2010 12:24 PM

Subject: Desculpas, publicações e ambições

Olá Sr. Moncks,

Há muito tempo não tenho navegado nesse mundo virtual, peço desculpas por ter interrompido nosso contato de uma hora para outra, mas sabes que não tenho acesso livre a internet, isso complica bastante minhas postagens no Recanto e a continuidade dos meus contatos no "mundo literário".

Apesar de estar postando com menor assiduidade no Recanto das Letras, saibas que continuo praticando a leitura e a escrita. Atualmente estou lendo o seu Confessionário, que está me ajudando muito nos meus rabiscos diários, estou inclusive com mais paciência para fazer o que você chama de "momento de transpiração", o que tem engolido no mínimo 10 horas para cada texto (muito pouco ainda, eu sei).

Estou enfrentando certa dificuldade na classificação dos textos no RL devido a minha escrita "derramada" nunca sei se o que escrevo é Prosa Poética ou o Poema propriamente dito.

Participei de um concurso literário faz alguns meses usando um poema que escrevi quando tinha 18 anos, esse poema foi publicado pela editora CBJE, com certeza você já deve ter ouvido falar desses concursos, percebi que os critérios para seleção não são muito rígidos, mas já é um começo. Não tenho muitas ambições de me ver publicado e muito menos ganhar dinheiro com a poesia, mas gostaria sim de ser reconhecido, por enquanto é essa a ambição que me move (dizem que a ambição move o mundo).

Transcrevo abaixo o poema que foi publicado na Antologia da CBJE, usei alguns termos em inglês (coisa que hoje eu não faço), usei também algumas rimas.

Como sempre, peço que não me prive da sua análise crítica de que eu tanto careço, tenho esperança de me encontrar um dia velhinho, numa casinha de madeira no campo, olhando a natureza, escrevendo meus versos e sem nenhum dinheiro no bolso que seja, mas sempre passando para as novas gerações o conhecimento que até lá com certeza vou possuir.

Que o mundo então não me prenda nas suas teias.

Segue o poema:

“Nostalgia

Tenho lembrado de meus velhos companheiros

Que eram malandros, outros, santos

Homens de uma alma apenas

Que seguiram sua própria estrela

E debaixo de uma virgem figueira

Lutavam com palavras, espadas de poemas

Navio de carga, trens, estradas e caronas

Cada gota na sua onda

A cada quilômetro uma cena

Velhos guerreiros sem guerra

Good trip em highway esburacada

Que fecharam abismos com um punhado de terra

E deixaram suas vidas sumirem nessa estrada.

Abraços fraternos.

Silvério Bittencourt da Costa.”

----- Original Message -----

From: Joaquim Moncks - Gmail

To: Silverio de Bittencourt da Costa

Sent: Monday, March 29, 2010 12:54 PM

Subject: Re: Desculpas, publicações e ambições

Tudo bem, amigo Silvério?

Que bom que deste as caras por aqui... Já estava preocupado com a tua ausência.

Fico feliz que tu estejas aprendendo a fazer a 'transpiração'. Vais notar que as palavras, deste modo, ficam mais limpas de sentido e forma. Dizem mais, enfim...

Gostaria de ver o exemplar da Antologia referida. Tu tens um sobrando?

Como bem posso ver, a poesia continua em tuas artérias, jorrando aos borbotões. Continuo apostando em ti, poetamigo!

É inusitado, curioso, que, no caso de estarmos falando com um razoável poeta, a linguagem provenha toda enfeitada, palavras em seu vestido de festa, como gosto de dizer... E isto ocorre a qualquer situação e momento, como agora, nesta tua mensagem cursiva e bem acabada.

Parece-me que só escreverá bem aquele que verbalizar bem, salvo honrosas exceções... Portanto, a pessoa tímida já começa em desvantagem.

Estarei em POA até segunda que vem, fazendo contatos para a edição de dois novos livros. Volto ao Passo para o programa de terça-feira, dia 06, se não tiver que ficar aqui em POA para o Cafezinho Poético-Musical da Casa do Poeta Rio-Grandense, que ocorre todas as primeiras terças do mês.

O poema NOSTALGIA é bom, bem urdido, e a utilização do idioma inglês delata a confluência com Jack Kerouac e Allen Guinsberg, que são personagens introjetados na tua cuca. O teu alter ego respira o mundo das ruas e a liberdade que o andar sugere. Parece-me que não moras em Torres. O teu mundo é mais largo, mais convidativo...

Lembro ON THE ROAD, do Kerouac. Assim é a grande palavra; vai se alojando nos olhos, sobe aos nossos eriçados cabelos, e, por osmose, entra em nossos cérebros.

A palavra poética recria o fio da vida... É um visgo retroativo que nos remete à placenta.

O mundo, por certo, não te prenderá em suas teias, disso tenho quase certeza. Tens capacidade para a tessitura da teia, não para ficar no emaranhado próprio dos insetos...

Que tal tu vires a ser o meu biógrafo? Mas terás que ter ‘saco’ pra ler a obra de um transpirado... Rssss!

Publica o “NOSTALGIA” no Recanto. Não é comprometedor à tua imagem de novato, está bem costurado... Um poema desse teor, aos 18 anos, é uma boa estréia em Antologia impressa.

Entrega-o, agora, aos colegas de virtualidade. Talvez algum editor leia a tua página. Quem sabe possa sobrevir algum convite digno de vitrina...

Paz e Criatividade!

Vai o abraço do poetinha JM.

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.