COMO SURGE A DUALIDADE


O Abençoado disse a ele: Mahāmati, já que o ignorante e o tolo — não sabendo que o mundo é o que se vê da própria Mente — se apegam aos inúmeros objetos externos, se apegam a noções de ser e não ser, eu e outro, ambos e nenhum, existência e não-existência, eternidade e não-eternidade caracterizadas pela natureza do eu que surge da discriminação baseada em hábitos, eles estão viciados em falsas imaginações.
Mahāmati, é como uma miragem em que falsas fontes de água são vistas como sendo reais. Elas são imaginadas por animais que, sedentos no calor da estação, correm até elas. Não sabendo que as fontes são suas próprias alucinações mentais, eles não percebem que não há tais fontes.
Do mesmo modo, Mahāmati, o ignorante e o tolo — com suas mentes impregnadas de diversas especulações e discriminações incorretas desde um tempo sem início, com suas mentes queimando no fogo da cobiça, raiva e ignorância, se deleitando em um mundo com formas numerosas, com seus pensamentos saturados de nascimento, destruição e dificuldades, não compreendendo bem o que significa existência e não-existência, interno e externo — assim o ignorante e o tolo caem no modo do eu e outro, ser e não-ser.
Mahāmati, é como uma cidade de Gandharvas encarada como um lugar verdadeiro, embora não seja. Essa cidade aparece devido ao apego das pessoas a uma memória de cidade, mantida latente desde um tempo sem início. Essa cidade nem existe nem inexiste.
Da mesma maneira, Mahāmati, se apegando à memória de especulações e doutrinas incorretas desde um tempo sem início, eles se agarram a ideias como eu e outro, ser e não-ser. E seus pensamentos não tem nenhuma clareza sobre o que se vê da própria Mente.


Buda Shakyamuni
(Índia, séc. VI a.C.)



samsara.blog.br/2009/05/como-surge-dualidade/