Antes que seja tarde
Hoje acordei e dei de cara com a morte.
Uma amiga me telefonou as duas da manhã, para me dizer que seu pai se foi.
A primeira reação um susto. Depois lembranças de momentos e por fim a saudade.
Orações, para pedir a luz necessária para uma passagem tranqüila, para um plano que ainda é desconhecido..
E, Finalmente reflexão.
Pus-me a pensar quão imprevisível é a morte.
Embora esteja ao nosso lado todos os dias não nos damos conta de quanto pode ser repentina a sua chegada.
Só temos esta percepção quando se trata de uma pessoa querida e nos damos conta de que não mais vamos vê-la em nossa vida.
Mesmo para os que têm a certeza da imortalidade do espírito, como eu. Mesmo sabendo que a única diferença entre aquele que se foi e nós que ficamos é um véu invisível. Mesmo assim, ainda nos sentimos tristes e desalentados quando ela vem sorrateiramente e nos leva alguém por quem tínhamos uma grande afeição.
Esse sentimento de perda nos leva a tamanha inquietude e impotência. E quanto maior a afeição e o carinho que tínhamos pelo ente que se foi, mais desiludidos ficamos, embora saibamos que ela é a única certeza que temos na vida desde o dia em que nascemos..
Então por que, mesmo sabendo da possibilidade da morte chegar a qualquer tempo nos levando seja quem for estamos sempre deixando coisas imprescindíveis para depois? Por que mesmo assim passamos a vida nos apegando a coisas sem sentido e dando importância ao que não é tão importante assim?
Por que guardamos ressentimentos e esperamos tanto tempo para perdoar e pedir perdão?
Por que não dizemos hoje, agora, antes que seja tarde demais “eu te amo” às pessoas que amamos?
Ficamos dando tempo ao tempo sem lembrar que às vezes a morte não vai nos dar o tempo que precisamos.
Quando somos enfim surpreendidos pela ida de alguém a quem não perdoamos ou não pedimos perdão, de quem guardamos por tanto tempo ressentimentos sem ganhar nada em troca, de alguém com quem até deixamos de falar, percebemos que o tempo que perdemos jamais voltará atrás e que já não podemos consertar nossos erros e aparar nossas arestas com aquele que se foi.
Então amemo-nos uns aos outros desde já. Confessemos o nosso amor por quem quer que seja, esquecendo qualquer faísca de orgulho, perdoemos enquanto isso é possível e se acharmos que fizemos mal a alguém tenhamos a humildade de pedir perdão,antes que seja tarde.
Ainda que nos persiga o medo de não sermos perdoados, vale a pena. Pois teremos a certeza de que fizemos a nossa parte e que não deixamos chegar o dia de dizermos agora não tem mais jeito.
Então quando a morte assaltar a nossa vida sem pedir licença, poderá trazer a saudade mas não o remorso de termos deixado partir alguém sem ouvir nossa palavra, sem sentir nosso calor e sem provar do nosso sorriso.