BENDITA DOR
BENDITA DOR
Sentado nesta cadeira,
ao som de TENTE OUTRA VEZ
(RAUL SEIXAS)
não consigo mais rimar.
Também pra quê?
Isso não me interessa mais
(no momento)
Estou vendo um filme
que eu fiz e faço parte dele.
Filme no qual,
ao mesmo tempo,
sou o ator e o telespectador.
Só não sou o autor.
Não vi o início...
... vivo o meio.
O fim...
... a Deus pertence.
Umas cenas vou vendo
e revivendo,
ora me aplaudo...
noutras me crucifico...
noutras, ainda, lamento...
por vezes desejo reviver.
Por mais que n’algumas cenas
sinto como se apunhalassem
esse corpo frágil,
que ao pó voltará,
transponho a dor,
na convicção da importância
de ter passado por ela.
Por quê?
Porque fez parte da minha vida.
Fui eu quem a vivi.
Os outros apenas assistiram,
contribuindo ou não
colaborando ou não
interrompendo-a ou não,
mas quem a viveu fui eu.
Tanto faz eu fechar os olhos
ou arregalá-los,
não fará diferença alguma,
as cenas continuarão a transcorrer,
até chegar ao dia de hoje.
Pará-las ou adiantá-las?
Dependerá da imaginação.
Não a imaginação
do desconhecido,
e sim do que existiu,
daquilo que vivi.
Porém, com os olhos fechados
vejo com mais nitidez
as cenas da minha vida,
desse pouco tempo que vivi,
[não sei se o suficiente]
contudo, bom o bastante
para que eu possa abrir os olhos,
erguê-los para o céu
e dizer, na mais plena alegria,
MUITO OBRIGADO
MEU GRANDE PAI!...
pelas dores que passei...
pelas quedas que tive...
pelos erros que cometi...
pelo bem que deixei de fazer...
pois com todo o meu erro,
ainda assim sou feliz,
revivendo essa BENDITA DOR,
acreditando ter sido eu
um grande heroi,
por ter tentado superar
[não todos, nem ninguém]
mas eu mesmo.
Foi tentando me superar a cada dia
que TU, oh PAI,
foste, em cada alvorecer,
me dando a oportunidade
de sempre recomeçar.
Fui vendo e vivendo cada dia
como uma nova chance...
uma nova oportunidade
para acertar e, nesses acertos,
não ferir-me mais,
pois sei que as cicatrizes
durarão por toda a minha existência,
FELIZMENTE.
GILVANIO CORREIA DE OLIVEIRA
ITANHÉM – BA, 15/04/2010.