O TEMPO A FAVOR

Entendo que os longos anos (mais de trinta e oito) de criação literária me deram algum estilo e formato. Estou sempre à busca do novo, da rarefação do ego do autor, através da impessoalização dos diálogos, pra que o leitor obtenha uma “janela” pra viver o conteúdo, e possa se “apossar” do texto. Trabalho, tanto na prosa quanto no verso, na busca do texto curto e limpo, com boa sugestionalidade e alguma transcendência. Agora – depois de todos estes anos – é que parece que estou melhorando o produto literário. Logo após a sua publicação, estou cada vez mais convicto de que o texto não é mais meu, é do mundo dos viventes... Curioso: pertence aos que chegam fora da hora, sempre depois da obra pronta. E porque o escritor necessita viver do seu trabalho intelectual, esta anterioridade o faz, apenas, detentor dos direitos de criação, mais nada. Ainda bem que a fruição do texto é, sempre, de domínio público. Sacia-se a fome espiritual daquele que aprecia aquilo que tu escreves... Por este prisma, a net contribui para diminuir a fome no mundo...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/2173431