Furacão

Havia muito de mim naquele lugar. Por onde eu olhava via rastros, pedaços, destroços. Cheguei a duvidar que tivesse mesmo sobrevivido.

Certa vez me perguntaram quanto tempo mais eu levaria pra me levantar. Eu respondi que não sabia quanto tempo mais eu resistiria. Morri. Por dentro e por fora. Troquei a pele, a casca, construí um muro. Alto e intransponível.

Pois veio um furacão. Não foi preciso vir de fora, simplesmente saiu de dentro, se formou no espaço vazio que ficou. E como houvesse muito espaço, foi um grande e perigoso furacão. Fascinante...

Tirou tudo do lugar. Algumas coisas jogou pra longe. Tão longe que nem me lembro mais de como eram! Mas trouxe outras... coisas belas, me fizeram feliz. Fazem.

O rosto que vejo no espelho é o mesmo que via outros tempos, mas o brilho que hoje há nele é exclusivo. Nunca tinha visto antes. Talvez, se eu reparasse, talvez descobrisse que sempre esteve lá, mas eu o deixava ofuscado por detrás das nuvens. Nuvens de nada.

Nunca mais quero deixar poeira acumular pelos cantos da minha alma. Nunca mais.

Prefiro o ar puro e o céu azul, o sol iluminando pela janela aberta.

Veio sem pedir licença. Licença pra quê? Felicidade não tem endereço nem hora pra chegar. Ela simplesmente acontece...