SE EU PUDESSE...
Raras vezes na rua, você olhou para mim como olha para todo mundo. Olhares que sempre foram rápidos como raios e, mesmo assim, mesmo sem a sua permissão ainda tive tempo. Tempo de conhecer-te um pouquinho e através de seu olhar enxergar a sua alma abstersa de sentimentos e conceitos que transformaram e continuam transformando a maioria dos seres humanos em animais selvagens pensantes.
Se eu pudesse, tornaria o ser humano, mais humano e menos ambicioso, mais sensível e menos rude, mais realista e menos fugitivo da realidade, todas as vezes que essa parece se revelar forte demais para a sua frágil estrutura nos mais variados aspectos.
Se eu pudesse, acabaria com as injustíças sociais e, assim não veria poucos abastados, enquanto uma grande maioria luta para sobreviver e, um grande número de pessoas morre de fome no planeta.
Se eu pudesse, abriria os corações das pessoas e plantaria neles as sementes do amor, da compreensão e da sensibilidade.
Se eu pudesse, não queria ver sorrisos dados somente com os lábios e nem lágrimas derramadas somente pelos olhos, pois na maioria da vezes tanto os lábios como os olhos estão representando, sendo hipócritas, do mesmo modo que é moda ser hipócrita, para poder permanecer nos trilhos da hipocrisia do mundo. Na verdade, eu queria ver os lábios e corações sorrirem sem falsidade, sem representações e, somente assim, eu poderia ter certeza dos sentimentos alheios, já que a sinceridade é capaz de banir toda forma de hipocrisia.
Herdei uma personalidade introvertida e um refinado senso de observação. Sou um jovem extremamente preocupado com a vida e com o rumo que ela pode tomar, simplesmente porque a vida vai se tornando a cada dia um circo cada vez maior, armado pelos "poderosos", onde os humildes não passam de palhaços para a completa diversão e exploração dos "homens do poder".
Se eu pudesse, lavaria os falsos moralistas que vivem chafurdados na lama da invirtude, posando de bons moços, quando as suas almas estão completamente tomadas pela lama. A grande verdade, é que o mundo está cheio de falsos moralistas enlameados e, toda água do mundo ainda seria insuficiente para tirar a sujeira, o falso moralismo de todos.
Se eu pudesse, queria crer mais nas pessoas e nos sentimentos humanos. Se eu pudesse, queria crer que ainda existe amizade pura e verdadeira e que a palavra amizade não é apenas um termo usado para explorar a boa fé do próximo e de milhares de pessoas que ingenuamente se aproximam dos lobos devoradores com pele de cordeiro. Das muitas pessoas que se dizem amigas, poucas com certeza são autênticas nessa afirmação.
Nem sequer sei o seu nome, porém pude ver através dos seus olhos, a essência do verdadeiro ser humano. Vi nos seus olhos, gigantesca vida interior que a maioria das pessoas deixa morrer por acharem-na insignificante, quando é ela que caracteriza o traço mais marcante da personalidade humana, O CARÁTER RETO E VERDADEIRO.
Se eu pudesse, queria ser ser amigo. Mas como tudo na vida precisa de uma razão especial para acontecer e o início da nossa amizade parece não ter nenhuma razão concreta ou especial para acontecer, inevitavelmente nem te lembras que eu existo e, certamente irei te esquecer, porém, ah! Se eu pudesse!
Nota do Autor: Mensagem escrita no dia 20/01/1984, publicada na presente data.