EU E MEUS LEITORES - Parte 11

Senhoras e senhores, amigos recantistas, eis-nos aqui novamente para uma cena a mais de nossa interlocução interativa. Tem sido uma bênção e um privilégio pra mim tal experiência, haja vista que me possibilita não apenas responder às questões de meus generosos leitores, como também manter um estreitamento em nosso diálogo. Não sei se o que faço é arte, mas se for, entendo que sigo no caminho certo ao me manter próximo de quem honestamente assim concebe a simpleza de meus versos. Um fortissimo abraço a todos.

01 - Pergunta de Ana Nery, Fortaleza(CE):

Reinaldo, grandes poetas vêm destacando o amor ao longo dos séculos. Desde os filósofos présocráticos até os mais clássicos gênios de nossa literatura versaram muitas vezes sobre ele. Em linhas gerais o poeta defende a multiplicidade do amor. Basta vê alguma coisa de Camões, Pessoa, Saramago, Drummund e Vinicius, só como exemplo, e constatamos isso. Você me surpreende. É um poeta de rara coragem. Fala de amor como algo único, imorredor, invencível e ao mesmo tempo protesta e denuncia o discurso que advoga os muitos amores. Particularmente em seu recente texto "Amor somente um" você foi enfático nesse ponto, porém em vários outros trabalhos você segue essa linha tão solitária. Imagino que receba críticas por isso, mas o admiro pela força e pela coragem de ser tão diferente e tão único. De onde vem tanta convicção meu insuperável poeta?

Resposta:

Minha estimada Ana Nery. Fica claro em suas palavras que você é no mínimo grande apreciadora da literatura poética e muito provavelmente uma especialista na matéria. Isso só engrandece o meu privilégio de ser lido por você. Portanto, antes de mais nada, receba minha sincera gratidão. Eu concordo com você sobre a constatação de que em linhas gerais os maiores poetas da história defenderam a possibilidade de se amar muitas vezes. Camões mesmo chegou a propalar: "Nada é menor que a eternidade do amor que morre no limiar de seu sucessor". Respeitando, obviamente, a história desses seres brilhantes a quem você acertadamente denominou como gênios, eu prefiro me reservar ao direito de crer no fruto de minhas observâncias. Eu sou um apologista da eternidade amorosa. Creio em sua transcendência até. Creio nos mistérios suplantadores das leis físicas e naturais como um todo que dele advém. Creio que o amor é uma experiência sublime, aquém de nossas letras e canções, acima de dos 9% de nosso uso neurológico e cerebral. Isso, porém, devo aqui salientar, não parte de uma perspectiva moral e nem de um padrão ideológico-filosófico. Isso é simplesmente uma luz que minha consciência atribui como verdade absoluta e incontornável. Mas se de fato é assim, como pois explicar as milhões de almas mundo a fora que amam tresloucadamente e logo depois já não amam mais? Sou pragmático nesse particular e digo que jamais amaram. Vou mais longe e me atrevo a dizer que metade da população global nasce, cresce e morre nunca ter passado por uma autêntica experiência amorosa e asseguro que aqueles que puderam de tal sublimidade nutrir-se, certamente, com ela desceram à sepultura. Somos um ninho de máscaras habilmente confeccionadas para justificar nossas deslealdades, nossas covardias, nossas traições e nossa ausência de caráter. E a mais divulgada dessas máscaras é o suposto amor. Mas esse nobre sentimento jamais procede assim e independe até mesmo de seu êxito para que sobreviva. O amor é vivo até quando morto. Quem não entende isso agora, um dia entenderá. Beijos querida e obrigado pela oportunidade que me deu de falar acerca de algo que tanto me emociona.

02 - Pergunta de Cleo Mota, Taguatinga(DF):

Oieee Reinaldo

Há muito tempo venho lhe acompanhando e sou assídua a suas respostas aos leitores publicadas aos domingos.

Eu vi que nessa última edição publicou o nomes das 10 feras homens

que você indica no recanto. Adorei lê-los!

Agora gostaria de saber quem são as dez mulheres que você indica?

E a proposito qual o motivo de tanto carinho e proximidade entre você

e a poetisa Vanessa Morais? Desculpe a última pergunta, rss mas não me contive ao ler alguns comentários de vocês.

Uma boaaaaaaaaaa tardeeeeeeee pra você.

Abraçossssss milllll

Resposta:

Olá Cleo. Muito obrigado querida por esse apoio e pela gentileza de acompanhar esse diálogo semanal que tenho com meus preciosos leitores. Será um prazer esclarecer suas dúvidas. A indicação dos 10 poetas do gênero masculino que fiz semana passada rendeu muito pano pra manga e uma série de manifestações em meu e-mail, porém, não foi algo difícil pra mim, pois é bem reduzido o número de homens que me apreciam no RL. Isso impede que alguém se sinta desprestigiado por não constar na lista que divulguei. Já no que tange às mulheres a coisa é bem diferente. Tenho pelo menos uma centena de pessoas formidáveis e competentes que poderiam ser indicadas e se eu alistar apenas 10, estarei semeando uma bela da confusão, da qual, por não ser bobo, prefiro me esquivar (risos).

Sobre a Vanessa, você não é a primeira pessoa a perguntar. Nem sei bem qual a razão desse ponto de vista. O que posso dizer é que somos parceiros de um universo poético muito parecido e que temos um afetuoso vínculo extremamente sincero e sólido. Vanessa é uma pessoa especial, que me conhece como poucos, que me lê na alma, que me apoia e que entende muitas de minhas ações e reações. Eu a entendo como um presente de Deus em minha vida e torço sempre por sua felicidade não só como poetisa, mas também como profissional e feliz mãe de família que é. Beijos querida e espero ter respondido à altura.

03 - De Wladimir Macedo, Niteroi(RJ):

Reinaldo eu discordo completamente de você nessa coisa de que só se ama uma vez. Eu sou exemplo vivo do contrário. Amor nasce e morre assim como nós seres humanos. Eu mesmo já perdi as contas do tanto que amei de deixei de amar quem amava. Se o amor é eterno como você explica o fim dos relacionamentos entre pessoas que se amam?

Resposta:

Olá Wladimir. Muito grato por sua mensagem enviada e pelo ponto de vista expresso. Respeito você e suas considerações e lhe dou o sagrado e democrático direito à discordância, o qual também faço uso em relação a você. Eu nunca disse que os relacionamentos são eternos. O que digo é que o amor é eterno. Relacionamentos são frutos das ações e interesses humanos. As pessoas se querem ou querem algo de quem lhes quer e por isso se relacionam. A finitude humana, obviamente perpassa todo o seu conjunto de ações, o que naturalmente inclui as relações. Penso, porém, que quando um relacionamento termina isso não implica necessariamente no ocaso do amor, pois assim como os interesses mais diversos podem constituir o início de uma relação, do mesmo modo eles podem explicar seu término. Há também a possibilidade de que o que terminou e verdade jamais ter sido amor autêntico, logo são várias as possibilidades. O amor, todavia, não morre, pois, diferente dos relacionamentos, ele não é produto e nem fruto de uma ação humana. O amor é a essência de Deus, como dizem as Escrituras. Grande abraço meu amigo.

04 - Pergunta de Douglas Junior, Ananindeua(PA):

Reinaldo, na sexta feira passada voce publicou um texto contrariando a idéia de que a beleza seja fundamental. Estaria você se declarando opositor do grande e honrado poeta Vinicius de Moraes, que pensava o oposto?

Resposta:

Grande Douglas, obrigado pela pergunta e mande um grande abraço a todas as maravilhosas pessoas de Ananindeua. Conheço bem a região. Veja bem, a tal beleza fundamental narrada por Vinicius pode ser uma conotação holística, ou seja, ele poderia está falando em beleza plena, que vislumbra o contorno completo da personalidade humana e não somente seu desenho físico. Mas se por um acaso tenha sido de sua intenção realmente menosprezar a "feiura" em detrimento da "beleza" eu lamento que ele não esteja mais aqui para nos explicar o que seria verdadeiramente uma coisa e a outra, posto que tais conceitos são preconcebidos mediante padrões impostos e no âmago da verdade o que se define como tal é simplesmente aquilo que nos desagrada ou não. Moral da história: vence o relativismo. Grande abraço meu querido.

05 - Pergunta de Zoraide Adeline, Crateús(CE):

Reinaldo Ribeiro, você fala muito em seus poemas de sofrimento e dor causados por amores fracassados. Isso me lembra bem o drama das pessoas que são vítimas de traição. Fala pra mim, você já traiu?

Resposta:

Olá Zoraide, como você foi boazinha comigo nessa pergunta (risos). Mas veja bem, não vou deixar você na curiosidade. Traição é um termo terrível e denota alta deslealdade, a meu ver praticada contra alguém que confia na impossibilidade da prática que lhe desmerece. Em nossa cultura a idéia de traição é bem mais simplista e pragmática. Tenha compromisso e fique com outra pessoa e você já será um(a) traidor(a). Eu diria que no que diz respeito ao meu conceito pessoal, baseado no que afirmei acima, jamais fui e jamais serei um traidor. Porém, se eu fosse depender do falso moralismo coletivo para definir meu futuro a esse respeito, penso que há muito já estaria queimando numa fogueira inquisitória. Beijos e espero ter sido esclarecedor.

06 - Pergunta de Denis Valadão, João Pessoa(PB):

Reinaldo, quem são seus ídolos na poesia, na música e no esporte?

Resposta:

Querido Denis, não tenho ídolos em área alguma. Meu único referencial absoluto é Jesus. Obviamente tenho exemplos notáveis para me espelhar, como minha mãe e meu pai, porém nem a eles atribuo o rótulo de ídolos. Sou um grande apreciador da boa música, da composição literária e nem é mais novidade para ninguém o meu delirante fascínio pelo Flamengo, porém não posso e nem conseguiria citar nomes, pois nada me seduz a tal compostura, assim como nada me faz sequer sonhar tornar-me um ídolo também. Abraços querido.

07 - Pergunta de Ana Maria Vitória, Água Doce(MA):

Reinaldo, você realmente acredita no amor ou você acha que no fundo só o interesse une as pessoas?

Resposta:

Oi Ana. Que pergunta maravilhosa você me fez. A meu ver uma das melhores que recebi desde que iniciei essa seção tempos atrás. Eu considero muito pertinente sua dúvida e entendo perfeitamente bem as razões que lhe motivam. Como você já deve ter lido tanto em meus poemas como em várias respostas dadas aqui, eu defendo a existência e supremacia do amor, porém já falei e repito que a grande maioria das pessoas nasce, cresce e morre sem nunca ter amado de verdade, ainda que haja crido nisso muitas vezes. O amor é um sentimento raro, justamente pelo que você colocou: o interesse. A sociedade moderna estabelece parâmetros para o que seja um "bom relacionamento" e nesse bojo inserem-se aspectos sociais. Um bom casamento, por exemplo, hoje implica em dispor de estabilidade financeira e fala-se abertamente que nenhum amor resiste à falta de dinheiro. Eu não sou partidário disso, não creio em corações aristocratas e não advogo sentimentos materialistas, mas reconheço que conta-se a dedo quem pensa dessa forma nesses presentes dias. Beijos querida.

08 - Pergunta de Luis Filipe, Sete Lagoas(MG):

Meu grande mestre Reinaldo Ribeiro. Sou estudante de Letras e apaixonado por poesias da linha que voce pertence. Tenho procurado me preparar para me tornar um grande escritor, pois esse é meu sonho. Me diga, o que preciso fazer e quais as chances de um dia me tornar um Reinaldo Ribeiro?

Resposta:

Olá Luis Filipe. Você me deixa honrado com suas palavras e grato por me acompanhar de tão longe. Já dizia o antigo filósofo que jamais banhamos duas vezes na mesma água. O sol de amanhã não será igual ao de hoje, nem nós seremos iguais ao que somos. Logo, cada ser humano é portador de sombras e luzes individuais. Você jamais será um ser pequeno e comum como Reinaldo Ribeiro e Reinaldo Ribeiro jamais será um ser brilhante e competente como Luis Filipe. A boa notícia, porém, é que podemos ser felizes, realizados e até mesmo destacados sendo exatamente quem somos. Eu creio em você ok. Abraços amigão.

09 - Pergunta de Diana Andrade, Campos(RJ):

Oi poeta inesquecível. Não vou perguntar nada óbvio demais pois sobre a sua arte os seus muitos fãs já sabem tudo. Eu vou perguntar outra coisa. Uma coisa que não sai do pensamento. Reinaldo Ribeiro dorme vestido de que forma??

Resposta:

Oi Diana. Reinaldo Ribeiro simplesmente não dorme (risos). Beijos querida.

10 - Pergunta de Adna Silva, Natal(RN):

Reinaldo, eu já li algumas coisas suas sobre o carnaval. Me diz o que você tem contra a festa mais amada pelo brasileiro? Você não tem medo de se queimar com seus fãs se dizendo contra algo que a maioria deles adora?

Resposta:

Minha querida Adna obrigado por ter lido algumas coisas minhas e pela preocupação que expressa nesse aspecto. Nesse presente momento milhões de pessoas nesse país estão envolvidas no carnaval e dentre elas sei que estão muitos dos meus amigos recantistas. Eu respeito profundamente a opção de cada um e não estou aqui para criticar ou mesmo censurar os passos alheios, mas igualmente não fugiria à sua pergunta como não fujo de pergunta alguma. Você acha que governos de todas as esferas investiriam bilhões de reais em algo que fosse verdadeiramente benéfico ao povo? Veja bem, passamos o ano inteiro protestando contra a falta de investimento público em saúde, educação, saneamento básico, moradia, transportes e lazer. Apesar de toda essa massa de reclamações, sabemos que os governos quase nada fazem nesse sentido. Como se explica então a derrama de dinheiro fácil que eles viabilizam para o carnaval? Seria por bondade? Seria por reconhecimento e valorização a essa tal cultura popular? Não somos tão infantis a ponto de crer nisso.

O período carnavalesco registra os piores índices de tudo que pode envergonhar e entristecer uma nação: criminalidade, violência, mortes no trânsito, tragédias associadas ao álcool, estupros, exploração de menores, destruição de famílias, contaminação por DST's, são mazelas que ocorrem o ano inteiro, mas que se intensificam no carnaval. Assim que o período for encerrado as noticias começarão a ser divulgadas nos meios jornalísticos. Mas isso não é tudo. Essa festa conta com o investimento justamente porque visa anestesiar as consciências. Veja só um exemplo: aqui em São Luis houve um aumento na tarifa de transporte público urbano aviltante na madrugada da sexta para o sábado. Você acha que a decisão da prefeitura de fazer isso exatamente no período carnavalesco foi mera coincidência? Óbvio que não, pois ninguém sequer se dará conta desse abuso, desse saque, pois estarão nas ruas pulando, dançando, se degradando, enquanto a classe dominante sorri de suas misérias no conforto de suas maquinações.

Portanto, minha querida Adna, não posso ser favorável a uma festa infernal, que cega consciências, que anestesia a cidadania, que engana os tolos, que mata os iludidos, que perverte os inocentes e que corrompe as personalidades, pois para mim fala mais alto a panela vazia na casa do folião do que o seu sorriso imbecil nas passarelas.

Quanto a essa coisa de "me queimar" com meus leitores por conta de um ponto de vista que tenho é algo que sinceramente não me preocupa, desde que eu não "me queime" com minha própria consciência. Beijos querida.

****************************************************

Perguntas sempre para: reinaldojgr@gmail.com

Muito obrigado a todos e paz de nosso Senhor Jesus Cristo em todos os corações!