Joy e Saudade – é Natal de novo
Sempre achei que para essas duas palavras não há tradução completa possível, que não seja com a ajuda da emoção.
Para ambas é preciso sentir antes para entender depois, e só então se arvorar a explicar o que significam, quiçá traduzí-las para outro idioma!
Para a saudade trazemos do berço brasileiro o traquejo para o envolvimento com ela pela vida afora; tudo nos reporta a ela – alegrias e tristezas, recordações ou inquietudes da alma – ela está ali, como diríamos: rente que nem pão quente! A companhia da falta!
Já a outra, palavra do idioma inglês que significa na seca de um tradutor on line – alegria – é na verdade muito mais do que isso, é como a saudade, um misto de emoções que só o coração motivado é capaz de traduzir com afinco, o que se vai por dentro ao desejá-la a outrem ou a sentir no ar e na alma.
Joy é a mistura doce perfeita, como uma receita de muffin: um pouco de contentamento, muitas porções de felicidade, misturadas delicadamente com uma pitada de júbilo, e recheadas homogeneamente com camadas de regozijo e prazer. No topo de tudo vai um sorriso e um abraço para enfeitar. Depois de tudo, degusta-se o tal manjar com certa moderação, em porções generosas.
O melhor de tudo é que não engorda e faz um bem enorme ao coração!
Há a meu ver , no entanto, muito mais de identidade entre estas duas palavras e uma profunda diferença.
Ambas carecem de um motivo, não proliferam em solo árido e tampouco se manifestam em corações solitários. É preciso ser social, estar em grupo, amar e ser amado (ou desamado de vez em quando), querer e fazer o bem a outro, existir e ser existência de um ou de muitos, é preciso ser e se sentir filho de Deus, acreditando ou não que Ele está lá.
A diferença, no entanto, está na singeleza do timing e duração entre Saudade e Joy: o da primeira é permanente, oscilando entre up’s de alegria e down’s de tristeza, a saudade chega para ficar. Quanto a outra, há que haver um momento propício, que agregue espaço e tempo, conjugando dentro e fora para que se instale, e cessados os incentivos, ela murcha e se vai. Por isso ela é citada incansavelmente nesta época de Natal. Não é de se perder a chance quando ela aparece, ditam o bom senso e a vontade de ser feliz!
O Natal implica esta conjugação fraterna, que extrapola às pessoas de todos os credos, o sentido religioso cristão mais lindo e puro, que foi o nascimento de nosso Salvador. O Natal chega para todos, como o sol, a animar a vida, a iluminar a alma para o bem e para o outro. Todos se envolvem, adoram lembrar e ser lembrados, preparar a ceia e comer juntos num ato prazeroso de alegria e bem querer, o regozijo em júbilo de estarmos com nossos queridos.
Para os que estão distantes, fica a renovação da chance e a esperança de rever, e reencontrar quem sabe, de mandar um cartão ou e-mail, de rezar e lembrar carihosamente entre uma lágrima e outra, de todos e de cada um.
Por isso Joy nos motiva ao gesto de registrar o carinho e confirmar o amor e a amizade que temos e sentimos a nossa volta, sempre que possível e na medida do necessário. O coração é quem vai dizer...
Daí que neste Natal quero mais uma vez viver a chance de dizer e mostrar que vocês (s) me são caros e que os quero o mais perto que o coração e a tecnologia permitir, quero transformar o tempo em presente e deixar fluir em duas mãos o carinho, a falta, as lembranças e os planos que sempre teremos para nós.
O segurar de mãos é o símbolo. O oferecer carinho e abrigo é o gesto.
Para os demais que não podem viver conosco este período tão especial da convivência, só nos resta carregá-los seguros no peito, do nosso jeito, no timing próprio da saudade!...
Feliz Natal e um 2010 de renovadas alegrias e contrução de sonhos!
Com carinho,
Anadijk
Houten, 23/12/2009