CONSCIÊNCIA NEGRA : SONS DO SINO DA LIBERDADE?
Comemoramos, em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Diferentemente de treze de maio, é dia de celebrar esforços para libertação de preconceitos geradores de discriminação social.
Ben Okri, escritor africano agraciado com inúmeros prêmios literários, começa um de seus livros dizendo que era invisível e que sua mãe também o era. Há algo pior do que ter consciência de invisibilidade imposta por gente que não aprendeu a ver, ou que não deseja ver?
Ralph Ellison, em “O homem invisível “, narra as agruras de um afro-americano que se percebe invisível: anda pelas ruas sem que qualquer pessoa branca o note. Vocês já imginaram experimentar isso?
O que se mostra melhor: invisibilidade da indiferente negação ou visibilidade castigada? Ambas são terríveis. Há na literatura, especialmente na chamada Pós-Colonial, exemplos gritantes de dor da indiferença, em vários continentes. Raça e cor regem motivos para negar visibilidade e voz por aqueles que, mesmo sendo minoria, detêm formas variadas de poder.
O poder consegue atingir o âmago de conjunto de traços culturais de um povo: reitera , em paternalismo de manipulador de títeres, que somos todos iguais, todavia, acredita ser bem mais igual do que os outros (o povo) !
Orwell, autor de 1984, desenvolve essa tese—entre outras tantas—em sua” Revolução dos bichos”. Assim, mesmo entre iguais, haverá alguns que se consideram mais iguais do que seus companheiros de grupo. Quer dizer, revelam-se pessoas que se pensam superiores aos demais, apesar de absolutamente iguais. Imaginem, então, o que tais seres cegos pensam de si próprios quando entre pessoas de características físicas e culturais diversas?
Rege a Declaração dos Direitos Humanos que somos todos iguais, em direitos e deveres. Se há igualdade, por que impor , velada ou abertamente, invisibilidade e mudez a alguns de nossos irmãos? Será que não formamos um conjunto de invisíveis?
Subjaz à idéia de consciência negra o conceito ‘negritude’, surgido na década de 30 do século passado. O que é negritude? Inicialmente, o conceito estava ligado a movimentos literários e políticos, originados nas antigas colônias francesas na África que, em luta contra o racismo colonial francês, de acordo com o qual a cor da pele escura inferiorizava quem a possuía, buscava louvar a conscientização da beleza de ser negro.
Negritude exaltava a herança cultural de crenças , saberes e tradições dos antepassados africanos e clamava a palavra “negro” em seu sentido de visibilidade, orgulho e igualdade. Opunha-se à hegemonia política e cultural dos brancos que os inferiorizava , silenciava e discriminava. O movimento “negritude” espalhou-se da França para as Américas, recebendo o nome “negrismo”, no Harlem de fala espanhola, a partir de grupos contra discriminação e submissão (por assimilação) de outras culturas que nada tinham a ver com suas origens e tradições históricas.
Possivelmente, a voz de maior volume—e ouvintes—foi a de Sartre em “Orfeu Negro”(1948), um ensaio sobre “negritude”, visando à igualdade entre as raças, particularmente , a africana juntamente com a de seus descendentes, no que constituiria posicionamento totalmente contrário a qualquer manifestação de racismo. No entanto, sabia que, ao defender unidade e igualdade raciais a partir de perspectiva de “negritude”, ele próprio, Sartre, seria considerado racista.
Consciência Negra é honrar tradições, crenças e saberes que compõem as diversas culturas provenientes da África, especialmente em aspectos e elementos que, transformados pelo contato com outras sociedades diferentes ou semelhantes aos das culturas-mães, passaram a integrar a “brasilidade”.
Movimentos como este , aqui em nosso pais, trariam orgulho a Martin Luther King que, em seu mais famoso discurso, “Eu tive um sonho”, antevia, nos mais sangrentos dias de cortante racismo, nos Estados Unidos, dias de liberdade, paz e igualdade:
“ Quando deixarmos que o sino da liberdade toque; quando o deixarmos tocar, em cada vila e vilarejo, em cada estado e em cada cidade, apressaremos o dia em que todos os filhos de Deus, pessoas negras e brancas, judeus, gentios, protestantes e católicos dar-se-ão as mãos e cantarão as palavras do antigo hino dos escravos “Finalmente livres! Finalmente livres! Obrigado Senhor Todo Poderoso, afinal, estamos livres!”
Quando poderemos cantar liberdade, igualdade e fraternidade para todos, indiferentemente de raça, religião, tradições? Há aparentes esforços—pelo menos, oficialmente—para que a liberdade vigore calcada no orgulho de sermos todos iguais, especialmente em marcas que carregamos geneticamente. Contudo, será que nós, homens e mulheres do Brasil—e do mundo—, permitimos que soe alto o sino dessa liberdade , construída em sonhos e lutas por igualdade e fraternidade, em cada cantinho de nosso pais? E nós, respeitamos nossos irmãos em suas semelhanças e diferenças? Somos todos absolutamente iguais . Será que agimos de acordo com tal verdade?
Comemoramos, em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Diferentemente de treze de maio, é dia de celebrar esforços para libertação de preconceitos geradores de discriminação social.
Ben Okri, escritor africano agraciado com inúmeros prêmios literários, começa um de seus livros dizendo que era invisível e que sua mãe também o era. Há algo pior do que ter consciência de invisibilidade imposta por gente que não aprendeu a ver, ou que não deseja ver?
Ralph Ellison, em “O homem invisível “, narra as agruras de um afro-americano que se percebe invisível: anda pelas ruas sem que qualquer pessoa branca o note. Vocês já imginaram experimentar isso?
O que se mostra melhor: invisibilidade da indiferente negação ou visibilidade castigada? Ambas são terríveis. Há na literatura, especialmente na chamada Pós-Colonial, exemplos gritantes de dor da indiferença, em vários continentes. Raça e cor regem motivos para negar visibilidade e voz por aqueles que, mesmo sendo minoria, detêm formas variadas de poder.
O poder consegue atingir o âmago de conjunto de traços culturais de um povo: reitera , em paternalismo de manipulador de títeres, que somos todos iguais, todavia, acredita ser bem mais igual do que os outros (o povo) !
Orwell, autor de 1984, desenvolve essa tese—entre outras tantas—em sua” Revolução dos bichos”. Assim, mesmo entre iguais, haverá alguns que se consideram mais iguais do que seus companheiros de grupo. Quer dizer, revelam-se pessoas que se pensam superiores aos demais, apesar de absolutamente iguais. Imaginem, então, o que tais seres cegos pensam de si próprios quando entre pessoas de características físicas e culturais diversas?
Rege a Declaração dos Direitos Humanos que somos todos iguais, em direitos e deveres. Se há igualdade, por que impor , velada ou abertamente, invisibilidade e mudez a alguns de nossos irmãos? Será que não formamos um conjunto de invisíveis?
Subjaz à idéia de consciência negra o conceito ‘negritude’, surgido na década de 30 do século passado. O que é negritude? Inicialmente, o conceito estava ligado a movimentos literários e políticos, originados nas antigas colônias francesas na África que, em luta contra o racismo colonial francês, de acordo com o qual a cor da pele escura inferiorizava quem a possuía, buscava louvar a conscientização da beleza de ser negro.
Negritude exaltava a herança cultural de crenças , saberes e tradições dos antepassados africanos e clamava a palavra “negro” em seu sentido de visibilidade, orgulho e igualdade. Opunha-se à hegemonia política e cultural dos brancos que os inferiorizava , silenciava e discriminava. O movimento “negritude” espalhou-se da França para as Américas, recebendo o nome “negrismo”, no Harlem de fala espanhola, a partir de grupos contra discriminação e submissão (por assimilação) de outras culturas que nada tinham a ver com suas origens e tradições históricas.
Possivelmente, a voz de maior volume—e ouvintes—foi a de Sartre em “Orfeu Negro”(1948), um ensaio sobre “negritude”, visando à igualdade entre as raças, particularmente , a africana juntamente com a de seus descendentes, no que constituiria posicionamento totalmente contrário a qualquer manifestação de racismo. No entanto, sabia que, ao defender unidade e igualdade raciais a partir de perspectiva de “negritude”, ele próprio, Sartre, seria considerado racista.
Consciência Negra é honrar tradições, crenças e saberes que compõem as diversas culturas provenientes da África, especialmente em aspectos e elementos que, transformados pelo contato com outras sociedades diferentes ou semelhantes aos das culturas-mães, passaram a integrar a “brasilidade”.
Movimentos como este , aqui em nosso pais, trariam orgulho a Martin Luther King que, em seu mais famoso discurso, “Eu tive um sonho”, antevia, nos mais sangrentos dias de cortante racismo, nos Estados Unidos, dias de liberdade, paz e igualdade:
“ Quando deixarmos que o sino da liberdade toque; quando o deixarmos tocar, em cada vila e vilarejo, em cada estado e em cada cidade, apressaremos o dia em que todos os filhos de Deus, pessoas negras e brancas, judeus, gentios, protestantes e católicos dar-se-ão as mãos e cantarão as palavras do antigo hino dos escravos “Finalmente livres! Finalmente livres! Obrigado Senhor Todo Poderoso, afinal, estamos livres!”
Quando poderemos cantar liberdade, igualdade e fraternidade para todos, indiferentemente de raça, religião, tradições? Há aparentes esforços—pelo menos, oficialmente—para que a liberdade vigore calcada no orgulho de sermos todos iguais, especialmente em marcas que carregamos geneticamente. Contudo, será que nós, homens e mulheres do Brasil—e do mundo—, permitimos que soe alto o sino dessa liberdade , construída em sonhos e lutas por igualdade e fraternidade, em cada cantinho de nosso pais? E nós, respeitamos nossos irmãos em suas semelhanças e diferenças? Somos todos absolutamente iguais . Será que agimos de acordo com tal verdade?