SALVE,LINDO PENDÃO DA ESPERANÇA!
Amanhã, dia 19 de novembro, é Dia da Bandeira, a qual, realmente, nas palavras da letra de Olavo Bilac, nos traz à lembrança a imagem do Brasil.
Qual a imagem de Brasil que esse símbolo da pátria evoca dentro de nós? O Brasil da propaganda política e de comerciais ufanistas da mídia? O Brasil que a oposição—quem se esconde sob o nome ‘oposição’?—promete consertar e nos entregar renovado e limpo ? Qual imagem, enfim, desejamos construir para a representação de pátria que nossa bandeira provoca? O que estamos fazendo para que, frente à bandeira, comecemos a desenvolver orgulho consciente das imagens que a presença da bandeira venha a nos motivar?
Às vezes,relembro desse hino, e de tantos outros, que entoávamos, em posição de sentido, em comemorações a datas cívicas, ao longo do que hoje é o Fundamental. Geralmente, isso acontecia lá pelas onze horas da manhã, à sombra de cinamomos e ameixeiras, no pátio da frente da escola particular que frequentávamos. A escola, nessas datas, exigia uniforme completo: as meninas de saia de pregas azul marinho, blusa branca de mangas compridas, gravata, meias soquetes brancas e sapatos pretos; os meninos vestiam calças compridas marinho com cinto, camisa branca de mangas longas, gravata marinho, meias brancas e sapatos pretos. Para alguns colegas, que vinham da chamada Colônia, o uniforme era barreira para comparecimento em tais comemorações: usavam tamancos de madeira, calças de riscado, camisas reformadas do pai ou avô, enquanto as meninas, vinham com os mesmos tamancos da roça e vestidinhos desbotados. Muitas vezes, conseguiam completar o uniforme com a ajuda da comunidade ou de algum padrinho/
madrinha. Recordo da satisfação de meus coleguinhas ao participar desses eventos que, na época, marcaram nossa trajetória escolar. Devo acrescentar que quase todos , meninos e meninas, que não tinham sapatos nem uniforme para uma meia dúzia de comemorações cívicas, seguiram sua jornada de estudo e concluíram o curso universitário. Alguns cursaram, inclusive, doutorado.
Tamancos, calças de riscado, roupa reformada, vestido desbotado não os empobrecia como colegas: a gente nem via as diferenças. Aliás, não havia diferenças: eram filhos e netos de agricultores que traziam buquês de dálias e de saudades para os professores, repartiam conosco balas de mel feitas em casa, fatias largas de pão de milho com ’schmier’ de melancia, laranja azeda e melado. Éramos amigos nos jogos de pular corda, caçador, ‘rei-rainha,’ estátua, amarelinha e tantos outros. Havia, nas salas de aula, os internos abastados de São Paulo, Rio, Paraná e outros, talvez menos privilegiados financeiramente, oriundos de cidades do Rio Grande do Sul, as quais meios de transporte e de comunicação daquele tempo tornavam muito distantes, bem como uma maioria composta por filhos de operários, agricultores, auxiliares de contabilidade, comerciários. E nós amávamos a terra que nossos antepassados haviam escolhido como pátria, mesmo que, em nossas casas, outras línguas fossem faladas. E, com um portugues cheio de sotaques, cinamomos e ameixeiras eram testemunhas do modo altaneiro com o qual homenageávamos o Brasil, representado pela bandeira antiga que vibrava pelo estandarte , bem perto do céu.
Quando concluímos Magistério—não é plural majestático, mas a inclusão de minhas tres irmãs (apesar de uma haver partido no último ano do curso, mas que vive para sempre em nós), já que éramos ,todas, em termo da década de sessenta, ‘normalistas’—duas de nós lecionamos na mesma escola estadual: prédio de madeira; cheio de frestas, pelas quais o minuano uivava; ; pátio de puro barro; em cada sala, um fio de luz do qual pendia única lâmpada de 40 watts; quadro negro mínimo pintado com tinta que não aceitava giz. E, claro, um mastro , no qual se hasteava, em celebrações patrióticas, uma bandeira quase rota. A história assemelhava-se a de nossa escola da infância: alunos uniformizados, de guarda-pó, eram reunidos frente ao mastro e, com hino, mais ou menos decorado, em uníssono destemperado , lá nos íamos—alunos e professoras—para, em posição de sentido, entoar o “Salve lindo”, como falavam as crianças.
Entusiasmo era semelhante, no entanto em outro panorama: estávamos obrigados a cantar. Os alunos—1ª a 5ª séries—ignoravam o que andava à volta. Ainda mais que o grupo escolar ficava perto de uma subsistência militar que fornecia ossos fartos de carne para a sopa escolar. Parecia tudo muito bem...As crianças viam, além das cores da bandeira, o lema “Ordem e Progresso”, o qual servia de tema para redações e tarefas escolares. No entanto, o “Salve lindo” ecoava pelo pátio e grudava-se, em posição de sentido, ao mastro da bandeira hasteada. Meninos e meninas, felizes, apesar de frio, narizes correndo verde, pés quase descalços, piolhos, pulgas e bichos-de-pé, festejavam sua barriga quentinha com a sopa gostosa, com sabor da carne que nossos vizinhos nos ofertavam cada dia.
E hoje, o que pensamos e imaginamos ao ouvir a letra de Bilac e a música de Francisco Braga, frente ao nosso “pendão da esperança” e “símbolo augusto da paz”? Quem ainda conhece este hino e sabe cantá-lo? Afinal, alguns poderiam questionar, para que Dia da Bandeira, se nem feriado é? Será que, se a meninada de agora conhecesse o repertório de nossos hinos—a começar pelo Hino Nacional--, nosso futuro poderia ser o de um “gigante em berço esplêndido”, esplendidamente acordado, que lutaria para acabar com corrupção, violência, tráfico de drogas e que investiria em paz urbana, educação, saúde, justiça social e em proteção ambiental?
Homenageamos o Dia da Bandeira na lembrança de cinamomos, ameixeiras, bandeira hasteada e vozes infantis entoando, abraçados em esperança: “Salve, lindo pendão da esperança, /Salve , símbolo augusto da paz!”
Amanhã, dia 19 de novembro, é Dia da Bandeira, a qual, realmente, nas palavras da letra de Olavo Bilac, nos traz à lembrança a imagem do Brasil.
Qual a imagem de Brasil que esse símbolo da pátria evoca dentro de nós? O Brasil da propaganda política e de comerciais ufanistas da mídia? O Brasil que a oposição—quem se esconde sob o nome ‘oposição’?—promete consertar e nos entregar renovado e limpo ? Qual imagem, enfim, desejamos construir para a representação de pátria que nossa bandeira provoca? O que estamos fazendo para que, frente à bandeira, comecemos a desenvolver orgulho consciente das imagens que a presença da bandeira venha a nos motivar?
Às vezes,relembro desse hino, e de tantos outros, que entoávamos, em posição de sentido, em comemorações a datas cívicas, ao longo do que hoje é o Fundamental. Geralmente, isso acontecia lá pelas onze horas da manhã, à sombra de cinamomos e ameixeiras, no pátio da frente da escola particular que frequentávamos. A escola, nessas datas, exigia uniforme completo: as meninas de saia de pregas azul marinho, blusa branca de mangas compridas, gravata, meias soquetes brancas e sapatos pretos; os meninos vestiam calças compridas marinho com cinto, camisa branca de mangas longas, gravata marinho, meias brancas e sapatos pretos. Para alguns colegas, que vinham da chamada Colônia, o uniforme era barreira para comparecimento em tais comemorações: usavam tamancos de madeira, calças de riscado, camisas reformadas do pai ou avô, enquanto as meninas, vinham com os mesmos tamancos da roça e vestidinhos desbotados. Muitas vezes, conseguiam completar o uniforme com a ajuda da comunidade ou de algum padrinho/
madrinha. Recordo da satisfação de meus coleguinhas ao participar desses eventos que, na época, marcaram nossa trajetória escolar. Devo acrescentar que quase todos , meninos e meninas, que não tinham sapatos nem uniforme para uma meia dúzia de comemorações cívicas, seguiram sua jornada de estudo e concluíram o curso universitário. Alguns cursaram, inclusive, doutorado.
Tamancos, calças de riscado, roupa reformada, vestido desbotado não os empobrecia como colegas: a gente nem via as diferenças. Aliás, não havia diferenças: eram filhos e netos de agricultores que traziam buquês de dálias e de saudades para os professores, repartiam conosco balas de mel feitas em casa, fatias largas de pão de milho com ’schmier’ de melancia, laranja azeda e melado. Éramos amigos nos jogos de pular corda, caçador, ‘rei-rainha,’ estátua, amarelinha e tantos outros. Havia, nas salas de aula, os internos abastados de São Paulo, Rio, Paraná e outros, talvez menos privilegiados financeiramente, oriundos de cidades do Rio Grande do Sul, as quais meios de transporte e de comunicação daquele tempo tornavam muito distantes, bem como uma maioria composta por filhos de operários, agricultores, auxiliares de contabilidade, comerciários. E nós amávamos a terra que nossos antepassados haviam escolhido como pátria, mesmo que, em nossas casas, outras línguas fossem faladas. E, com um portugues cheio de sotaques, cinamomos e ameixeiras eram testemunhas do modo altaneiro com o qual homenageávamos o Brasil, representado pela bandeira antiga que vibrava pelo estandarte , bem perto do céu.
Quando concluímos Magistério—não é plural majestático, mas a inclusão de minhas tres irmãs (apesar de uma haver partido no último ano do curso, mas que vive para sempre em nós), já que éramos ,todas, em termo da década de sessenta, ‘normalistas’—duas de nós lecionamos na mesma escola estadual: prédio de madeira; cheio de frestas, pelas quais o minuano uivava; ; pátio de puro barro; em cada sala, um fio de luz do qual pendia única lâmpada de 40 watts; quadro negro mínimo pintado com tinta que não aceitava giz. E, claro, um mastro , no qual se hasteava, em celebrações patrióticas, uma bandeira quase rota. A história assemelhava-se a de nossa escola da infância: alunos uniformizados, de guarda-pó, eram reunidos frente ao mastro e, com hino, mais ou menos decorado, em uníssono destemperado , lá nos íamos—alunos e professoras—para, em posição de sentido, entoar o “Salve lindo”, como falavam as crianças.
Entusiasmo era semelhante, no entanto em outro panorama: estávamos obrigados a cantar. Os alunos—1ª a 5ª séries—ignoravam o que andava à volta. Ainda mais que o grupo escolar ficava perto de uma subsistência militar que fornecia ossos fartos de carne para a sopa escolar. Parecia tudo muito bem...As crianças viam, além das cores da bandeira, o lema “Ordem e Progresso”, o qual servia de tema para redações e tarefas escolares. No entanto, o “Salve lindo” ecoava pelo pátio e grudava-se, em posição de sentido, ao mastro da bandeira hasteada. Meninos e meninas, felizes, apesar de frio, narizes correndo verde, pés quase descalços, piolhos, pulgas e bichos-de-pé, festejavam sua barriga quentinha com a sopa gostosa, com sabor da carne que nossos vizinhos nos ofertavam cada dia.
E hoje, o que pensamos e imaginamos ao ouvir a letra de Bilac e a música de Francisco Braga, frente ao nosso “pendão da esperança” e “símbolo augusto da paz”? Quem ainda conhece este hino e sabe cantá-lo? Afinal, alguns poderiam questionar, para que Dia da Bandeira, se nem feriado é? Será que, se a meninada de agora conhecesse o repertório de nossos hinos—a começar pelo Hino Nacional--, nosso futuro poderia ser o de um “gigante em berço esplêndido”, esplendidamente acordado, que lutaria para acabar com corrupção, violência, tráfico de drogas e que investiria em paz urbana, educação, saúde, justiça social e em proteção ambiental?
Homenageamos o Dia da Bandeira na lembrança de cinamomos, ameixeiras, bandeira hasteada e vozes infantis entoando, abraçados em esperança: “Salve, lindo pendão da esperança, /Salve , símbolo augusto da paz!”