OUTRA VEZ, UM SONHO

Outra vez, um sonho

Na verdade, não o suporto. Sua imagem nos meios de comunicação irrita, com sua arrogância. Sonhos, porém, são um mundo à parte. È, mas até certo ponto, pois há uma linha--ainda que um fio de retrós--que os junta ao real. Posso interpretá-los nos dados de minhas experiências e anseios. Mesmo não sendo terapeuta, acho que deve haver um porquê para um sonho com tal trama.

Estava, não posso dizer apaixonada, seduzida pela aura de poder que ele--o presidente--emanava: passeava, de mãos dadas com ele, pelas avenidas e salões dos altos escalões, e todos lhe faziam salamaleques e acenos, aos quais respondia com discretos acenos, sempre segurando minha mão. E eu, nariz empinado, banho de loja, saltos altíssimos, seguia radiante ao seu lado, sentindo o calor de nossa relação. Parecia demonstrar prazer em estar comigo.

E lá nos íamos pelos eventos sobre macios tapetes persas, com taças de cristal e talheres de prata. Um dia, um grupo de antigas amigas gritou, eufórico," Mas, olha lá ! É a Marli ! Nossa, e de mãos dadas com o presidente !" Como ele, acenei, cortesmente, sem qualquer demonstração do orgulho que pulava dentro de mim. Fomos a um espetáculo de teatro, ele de fraque e eu num traje que faria inveja à madrinha de Cinderela, e com que jóias, Tiffany ou H.G.Stern, não lembro mais. Estava lindíssima e ele segurava minha mão. Na mesma fila, na outra ponta, sua ex nos cumprimentava com um aceno. A música--acho que era a mesma ária da "Vida é bela"--nos envolvia em romance.

Terminada a festa que se seguiu ao espetáculo, levou-me para casa--um lugar não identificável--e, apesar de convites doces e insistentes, deixou-me no salão de entrada. E ali ficou enquanto eu subia escadarias, do tipo "O vento levou", me olhando longa e carinhosamente. Ao deitar-me, afastei cortinado de veludo marfim e espiei pelas frestas da persiana: lá estava ele, de fraque e tudo, parado junto às grades trabalhadas do muro, fitando-me com amor e paixão, enquanto o carro reluzente o aguardava. Tudo muito platônico

E o sonho acabou, mas fiquei bastante tempo revendo suas imagens e emoções. O olhar apaixonado, as expressões apaixonadas e a intimidade no modo de falar e sorrir, e os afagos que o calor de sua mão passava para a minha ficaram comigo. Ainda que não o suporte. Será que este sonho acabou mesmo , ou não será um retrato de anseios no armário, ou nem tanto ?

Ilram

Ilram Rekrem
Enviado por Ilram Rekrem em 28/10/2009
Código do texto: T1891523
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