SENTIMENTOS UNIVERSAIS FEMININOS...E MASCULINOS
Sentimentos universais femininos...e masculinos
Ao ler o livro de Mcmillan, tive a certeza de que aquilo que muitos de nós, aqui do Recanto, expressamos é absolutamente universal. Ao atravessar o limiar da juventude--claro, na cabeça continuamos todos bem e jovens—há questionamentos que, em geral, julgamos caracteristicamente nossos. Será que são? Ao lermos vários autores do Recanto e outros tantos pelas prateleiras, percebemos que constituem parte inerente ao sermos humanos, mulheres e homens.
Terry Mcmillan é uma escritora contemporânea que se insere—ou melhor, inserem-na—no grupo afro-americano, e o livro , para caracterizar os personagens, utiliza elementos da maneira de escrever e falar do grupo afro-descendente.
Traduzi ( acho que este ainda não foi vertido para o português) tentando manter as características do texto , mas sem reproduzir os ‘erros’ do chamado falar típico de uma pessoa cujos descendentes foram escravos, no sul dos Estados Unidos. A intenção é, apenas, a de tentar demonstrar como somos TODOS parecidos em nossas emoções, pensamentos e ações.
Um abração para todos,
Ilram
Cap.I: O modo com vejo as coisas
(p.20)Ainda não consigo acreditar que todos eles saíram de dentro do meu corpo. Cresceram na mesma casa. Fiz o possível para espalhar meu amor a seu redor para que nenhum deles se sentisse preterido. Até mesmo menti para que cada um pudesse sentir-se especial. Fiz um esforço danado para que seguissem pelo bom caminho, mas, as vezes, decidiam que não queriam ir por onde eu desejava que fossem. Tinham seu próprio destino na cabeça, o que está bem, exceto que, quando não havia ainda nenhum caminho visível a sua frente , você, então, ficava pensando qual rumo tomariam.
Vi-os cometer toda sorte de erros, ao longo dos anos, e ficava apavorada por eles. Preocupei-me tanto que fiquei de cabelos brancos. Rezei como um pedinte. Porém, finalmente, aprendi que você não pode carregar o peso de tudo aquilo que possa acontecer a seus filhos. Pelo mais longo espaço de tempo imaginável foi , exatamente, o que fiz. Mas, hoje, não mais. Vou abandonando os poderia-seria-deveria, e concordo que não fui a mãe perfeita, no entanto quebrei meu pescoço tentando ser uma boa mãe. Cansei de estar sempre bancando a mãe deles. Chegou a hora de eles serem suas próprias mães. Não posso fazer nada além do que já fiz. E, de ora em diante, vou ficar do lado de fora. Já realizei passeios além do cabível a este hospital de tanto me preocupar com marido e filhos. E é por isso que, daqui para frente,a única pessoa com a qual vou me preocupar é com Viola Price. Essa sou eu. Estou chegando aos 55. Vinte e três meses mais e me qualificarei como idosa. Mal posso esperar! 15 de abril!
Tinha 42, quando Suzie-Mae telefonou, às 4:30 da manhã , para me comunicar que o neto de 16 anos de meu pai, com sua primeira mulher, o qual acolhera em sua casa, esfaqueara-o trinta e seis vezes e o matara, simplesmente porque papai não deixara que a namorada do menino entrasse para que passassem a noite juntos. Tive um ataque de pânico e não conseguia respirar. Os médicos trataram-me como se fosse asma, e tomo minha medicação desde aquela noite. Cada vez que paro, tenho um surto, assim, chego a pensar que, na verdade, foram os médicos que me presentearam com essa maldita doença. E não sei mentir. Este ataque me matou de medo. Lá no fundo de minha cabeça, penso: Será que este é O ataque? Em uma fração de segundo, você lembra de todos a quem ama, e no seguinte você se pergunta: Será que fiz o melhor? Será que realizei o que queria? O que mudaria, se pudesse fazer tudo outra vez? Será que magoei alguém tanto que esta pessoa não poderá me perdoar? Será que me perdoarão por não ter sido perfeita? Eu me perdoo. E perdoo a Deus. Mas, aí, você sente seus olhos abertos e se dá conta de que ainda não morreu. Há tubos saindo de você. Luzes brilham. Seu coração está bombeando. Você faz uma longa prece de agradecimento (pp.24-25).
A primeira coisa que faria seria comprar uma casa que não precisasse de consertos, e caminharia de pés descalços, pois o tapete seria bem alto. Diabos, um condomínio já me serviria, desde que tivesse um pedaço de terra no qual pudesse plantar alguns pés de couve, espigas de milho, tomates-cereja e mudas de pimenta picante a fim de preparar conservas para o inverno. E gostaria de experimentar como as pessoas se sentem ao dirigir algo recém-saído da fábrica. Sei que estou sonhando, mas, lá no fundo, quando você sabe que, pelo menos, oitenta por cento de sua vida já se foi, não lhe restam outras coisas a viver além de seus sonhos. (pp.25).
TERRY MCMILLAN em A day late and a dollar short ou TARDE DEMAIS E POBRE DEMAIS ou Muito pouco, tarde demais.
NY:Penguin Books, 2001.