Palavras e gestos
Há certos momentos na vida em que as palavras, de repente, perdem o sentido. Por mais que tentamos usa-las, elas valerão bem menos do que nosso silêncio. Pois é exatamente nessas horas que calamos nossas palavras e nos valemos dos gestos. Aprendemos a falar subjetivamente através dos gestos e da expressão de nosso olhar. Se pararmos pra pensar, como fazíamos isso bem naqueles anos de nossa vida que nossas palavras não passavam de balbucios. Não tínhamos outra forma de expressão. Com o tempo as palavras ganham força, a tal modo que aquilo que dizemos em alguns segundos pode determinar o resto de nossas vidas. Esquecemos da importância dos gestos, pensamos nas palavras, cada vez mais bonitas e elaboradas. Até que acontece um momento, de alegria ou de tristeza, que as palavras fogem de nossa mente e vem se tornar um nó em nossa garganta. Aperta nosso peito e nos sufoca, e transpassa do nosso corpo na forma de uma lágrima. Então aí está a palavra que não saiu. O sentimento inexplicável, a dor subjetiva, o desejo metafórico de medir em tamanho a saudade. Quando as palavras, a linguagem verbal que distingue o ser humano de todos os outros animais da Terra, passam a valer menos que o silêncio, que não mudarão em nada as expressões daquele coração humano, estando ele eufórico ou ferido, aprendemos a voltar para a infância e usarmos nossos braços, abraços, beijos como forma de expressão. Entregamos nossa alma através de nossos olhos. E como as pessoas entendem o que nossos olhos falam quando sua alma precisa ouvir. Voltamos a nossa primeira infância, porque, ao não conseguirmos escolher as palavras, falamos com o gesto, com os olhos, e com as lágrimas. Então deixe sentir o abraço caloroso, olhe no fundo dos olhos, ou não insista em quebrar as lágrimas de alguém. Talvez naquele momento esse alguém estará sem as palavras, sem os verbos, mas a alma precisa e fala, desse modo tão sublime e grandioso, aquilo que precisa dizer....
Lídia Maria