A IMORTALIDADE PELA PALAVRA
“Boa noite, sábio poeta! O poeta é solitário, egoísta, egocêntrico, exclusivista e perfeccionista? Responda-me! Têm lugar, em suas vidas, os pobres mortais? Respiram o mesmo ar? Beijos. Mariângela Bortolini.”
– remetido via Orkut, em 08/09/2009, às 20h33min.
Amada prima! Vem-me à cabeça um poema de temática social:
“Não pode o operário comer
o fio de prumo. Mas pode
vomitar o fio de prumo.”
Guilhermino César.
Sobre o teu recado de ironia e perplexidade, posso ajudar um pouquinho, numa tentativa de abordagem. Nós fazemos tudo o que o outro faz, como bem deves saber... Até lavamos a louça, o banheiro, o carro. Limpamos a casa com panos, vassoura, água sanitária e cera. Nem sempre com a mesma galhardia ou competência. Também preparamos alguma boia para os famintos e quase sempre queimamos o churrasco dominical... Sempre há algum descuido que causa prejuízo para o bolso de quem é do lugar comum da vida. Estes não têm coragem para o mergulho no poço de água impura. E chegam cansados, arquejantes de perguntas de toda ordem. Por vezes, sujamos mais do que limpamos... O espacial e o abstrato são impalpáveis, e, até por vezes, intocáveis por atos e gestos. Para alguns povos, somente rezas e mantras logram êxito para o coração alado. A diferença é que, com alguma insânia, tentamos travestir o tempo de viver e imaginamos a imortalidade pela Palavra. Acreditamos que o espiritual tem alma e bufa como um jumento cansado. E carregamos a carga sobre os nossos ombros para que fique menos pesado o mundo dos aflitos. E por acreditar que podemos salvar o mundo, imolamo-nos pela Liberdade e pelo Amor ao mistério do outro...
– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2009.
http://recantodasletras.uol.com.br/mensagens/1799687