À PRIMEIRA NAMORADA

Continuo querendo bem a primeira flor do distante passado. A luzinha de Eros entremeada aos passeios pueris, mãos muito próximas das pedrinhas das “três marias”, sob os céus de inverno muito azuis, quando o beliche navegava nos tremores da falta de experiência (do quase!) e os fetiches do sexo oposto amassando o açodado caminho para a clara de ovo. E isto parecia estranho, diferenciado da ardência do antes. Todavia, jamais traí a vontade e, na intimidade dos lençóis fiz as primeiras descobertas de viagem no sonho do amor desejoso de gazelas que brincavam no pátio da escola, à hora do recreio. Ainda está viva em mim a sensação gozosa de ver o vento brincando de roda e o prazer de te olhar, à frente, os olhos tesos na leve saia e blusa, nos veranicos de maio. Nos verões, os lúdicos prazeres na praia, a rala vestimenta das meninas, e a areia muito branca do Laranjal: a praia da infância e da adolescência vestia de encanto os olhos do menino. Porém, eram diários os folguedos, traquinagens e as brincadeiras viris entre os da malta dos jogos e enfrentamentos, no campinho de futebol de defronte da casa, que moíam os músculos durante todo o dia, e que acabavam com quaisquer perspectivas de gozo noturno, porque o físico entregava-se ao sono. Por que a gente sempre pede perdão pelas coisas bonitas que pensamos e pelos medos havidos, e os orgasmos não consumados, se dificilmente chegamos às vias de fato, tanto ontem como hoje? Estarão ajustadas as gerações do agora, que, a qualquer momento, “ficam” em mãos aqui e ali, “amassos” e avulsas penetrações? Sempre haverão os comedidos e os afoitos...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

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