Quanto vale o relacionamento??

Os jovens de hoje não “ficam”, eles “pegam”.

“- Ontem peguei 03” ou “- Já peguei todas as amigas de minha irmã”, e mais, a irmã diz o mesmo com relação ao irmão.

Na televisão temos “A fazenda”, “Big Brother”, que já está vindo para a 10ª edição, tem ainda “No limite”, “Jogo Duro” e “Troca de Família”, muito embora eu considere este último o menos nefasto, saliento para que não fique dúvida: menos nefasto. Afinal as famílias pelo menos percebem a diferença que um membro faz, a saudade, a diferença de tratamento, de valores, crenças e comportamentos. Mas no final de contas, se por 25.000 você troca sua mãe por 01 semana, o que não faria por 1.000.000,00???

E é assim programas de televisão usam da vivência em grupo, da equipe, do relacionamento como mero instrumento para ganhar dinheiro, ou seja, relacionamentos forjados meramente para ganhar um prêmio(?!). Simulações, fingimentos, amizades interesseiras e para que (?), ganhar 01 milhão? A cifra de 01 milhão vale que aceitemos que o relacionamento seja transformado em uma competição por dinheiro?? E o que fazer quando isso sair da telinha??

Vamos criticar a televisão e dizer que “eles” estão errados?? Ora, são “eles” que fazem o ibope ou nós?? Por que será que o Big Brother já está na 10ª edição?? E a “Casa dos Artistas”, lembra??? Quanto valem os relacionamentos?? Por quanto será que eu, você ou outros menos afortunados, ou menos Globalizados, ou menos RecorDizados ou menos SBTizados podem “vender” a capacidade de relacionamento para ganhar dinheiro?? Já imaginaram?? E nossos filhos que nos vêem apoiando isso??? Ver o BBB na primeira ou segunda vez por curiosidade, tudo bem, mas assistir todas as outras edições, isso é apoio, é concordância tácita!! As vezes o nosso silêncio é uma mensagem clara de desprezo, mas não creio que seja o caso, nosso silêncio diante da mercantilização do relacionamento em público, não é desprezo.

Mas e afinal, o que faremos quando essa mercantilização sair rasgadamente da tela??? Diremos que o mundo está perdido, que a juventude não tem valores, e etc, etc, etc....São somente os jovens que assistem esses programas? Será?????

Essa visão mesquinha do ser humano como um ser competitivo, interesseiro, dinheirista ao extremo, mentiroso, fingido é a nossa visão??? É assim que vivemos? É assim que nos relacionamos?? Não???!!!

Os relacionamentos podem e realmente nos fazem evoluir mais que humanamente, nos fazem evoluir espiritualmente, emocionalmente, racionalmente, pelo menos penso que seja essa a sua principal razão. Com efeito é decerto por isso que as pessoas possuem diferentes habilidades e talentos, porque é na soma dessas diferenças que não apenas evoluímos, mas efetivamente precisamos um do outro. Não podemos viver sós, mesmo que queiramos, precisar do outro é uma indelével necessidade humana. Mas e então, o que acontecerá quando os relacionamentos e as amizades forem apenas o palco para joguinhos de vaidade e dinheiro???

Não estamos apenas diante de uma mudança abissal do planeta pela burrice humana, estamos muito próximos de uma transformação nefasta dos relacionamentos, de um tal jeito que talvez tenhamos que cunhar outro conceito para nominá-los, porque as deturpações estão aí e estão sendo tratadas como naturais, contudo, não são naturais. Relacionamento não é para tirar vantagem, para ganhar dinheiro. Por que nos relacionamos??? Essa cada um responda a si mesmo.

É necessário consciência e atenção para o que ocorre e não apenas a apatia, que considera tudo NORMAL. Vou dar um exemplo: outro dia estava vendo televisão e a Sadia soltou um comercial. No comercial uma menina linda dizia que “família” é “pessoas no plural”, um comercial realmente muito criativo, com imagens convidativas, uma trilha sonora adequada e tudo mais, achei realmente criativo o trocadilho deles “família é gente no plural e tudo que está no plural merece um “S” de Sadia”. Perfeito!! Original!!Criativo!! Bem-humorado!!Ops!! Mas aí você se pergunta, família é pessoas no plural simplesmente?? Fiquei pensando que colocando esse tipo de idéia eles estavam propondo uma nova visão do conceito de família, uma visão até criativa, mas família é só isso?? Pessoas no Plural??? Gente no Plural?? Penso que não, ou será que é isso que nossa família é para nós??? Porque se é, qualquer grupo reunido e com um certo tempo de vivência é família, certo?? Estou sempre em família desde que tenha um tempo adequado de relacionamento, correto?? Que tempo adequado??? Sei lá??!! Nem quero pensar nisso. Mas família é isso??? É só isso?? Enfim, nos últimos dias percebi que a Sadia continua veiculando esse comercial do qual falei, mas ela tirou essa questão de família ser pessoas ou gente no plural.

E nós, já pensamos por quanto nos alugaríamos para outra família??? O que faríamos se nossos filhos ou cônjuges ou pais nos alugassem por 20 dias para ganhar dinheiro, aceitando igualmente um estranho para conviver a intimidade familiar?? Bom se você parou para pensar, então PARE E PENSE MESMO, porque a aceitação meramente hipotética disso, já passa uma mensagem bastante clara!! E depois de se alugar para outras pessoas ou família, o que mais será considerado normal ou aceitável??? Ahhh mas é só 01 semana, 20 dias, 01 mês, 45 dias...como se a questão fosse meramente matemática...

E finalmente lá vem o BBB-10. Se não assistir, OK, mas também não deixe sua FAMÍLIA assistir. Porque família não é gente no plural, é intimidade, compreensão e perdão. E sabe porque perdão? porque erramos, nos excedemos e não haveria necessidade nenhuma de perdão se assim não fosse e é na família que o perdão verdadeiramente existe, porque é lá que ele começa verdadeiramente. É na família que as emoções verdadeiramente transbordam, mas é lá, na família, que o amor é mais fácil e é também onde o perdão é as vezes mais difícil, porém quanto mais difícil, mais perdão e é por isso que o perdão tem por excelência na família sua origem e aprendizado. E aí?? Você está ensinando a perdoar??? Ou apenas está ansioso para o próximo BBB?? Porque a verdade é que cultura inútil as vezes é bom, desestressa, mas ora, tem cultura inútil melhor que essa....assista “Hotweels e Ben 10” com seu filho!

Valéria Trindade