ENTRE O REAL E O SONHO

Toca pra frente o teu alter ego. Liberta-o! Deixa a poesia fluir no poema! Ele fala bonito, só que tu o afastas possessivamente, por vezes nem o sentes e o confundes com a tua assinatura no poema e nos versos. Ele – o outro eu – tolera, porque sem ti ele não existiria. Nós somos vários em nós mesmos. Nos teus versos bonitos, os vocábulos “eu”, os “meus”, o pronome pessoal na primeira pessoa, afastam a mim – leitor. E a ele, que é o melhor em ti. Todavia não é o teu EGO, nem se confunde com ele. O alter ego é o sapequinha da paixão dentro de ti. O “impávido colosso” em tua poesia lírico-amorosa. É ele que te possui nos versos do poema, a encarnação fálica do havido e a do não feito, mas também havido. Quando te fores de ti mesmo, ele vai ficar: antena entre o real e o sonho.

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

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