E então,vamos ficar só olhando?


clevane pessoa


Amigo André(*):então,estou" lutando com as palavras",como você deseja e como todos os poetas deveriam,lutar.Por isso,a croniqueta poética,dedico-a a você,idealizador deste site(**).

Amigos:
sabem aquela cena de ,em se ouvindo um carro derrapando,freiando,pneus no asfalto guinchando,quatro ratões atrozes,ou despencando em ribanceira,rodando em estrada e batendo em muro ou poste,(sei lá?),TODOS correm prá ver.Há gemidos,caras assustadas,choro,gritos,sangue.
Chegam mais pessoas,celulares são acionados,uma cirene se faz ouvir:polícia,resgate,corpo-de-bombeiros,paramédicos e médicos.Às vezes uma carroça de boi,às vezes braços da lavoura,ajudam,mas sem saber o que mais fazer...
E a multidão se acotovelando.Um tanto de curiosos,um pouco de solidários.
"Afinal,não é meu corpo,nem dos filhos,nem da bem-amada,nem dos amigos,nem doartista da hora..."
"Afastem-se,afastem-se",pedem as autoridades.Todos resistem.Querem ver,ouvir,saber.Para comentar no bar.Na faculdade.Em casa.Na rua.
Um idoso chega,manso e diz com a voz da Verdade:
"_ E então,vamos ficar só olhando?
(E então,vamos ficar só olhando?)
Às vezes,é um velho,mas às vezes é um adolescente.Arregaça as mangas e começa o resgate.AGE.Uns ,sabem bem o que fazer."Não mova,pode ter comprometimento.Cervical,baço,hemorragia interna,fratura não exposta,exposta,luxação,cacos na pele,estilhaços nos olhos.Melhor não mexer"."Melhor esperar"."Não,gente,melhor arrastar daqui:pode haver explosão,olha a gasolina que escapou!"."Quanto óleo escorregadio e fétido"...
Alguém olha para o céu:urubus às vezes já fazem seus vôos circulares,loucos para descer.
É pode haver uma explosão.Afastam-se depressa,com medo de ...
Nos desastres,uns escapam,uns se perdem.Outros morrem.Eu mesma já perdi minha mãe,porque um motorista sonolento dormiu na direção("coitado,estava cansado",diria ela,generosa que era)e o ônibus rolou morro baixo...
Depois,todos se afastam,esquecem a pena,a visão da desgraça.Toma-se banho,janta-se,o amor é feito sem amor mesmo sob puídos lençóis.Ou lençóis de seda,que importa?Depois,se lembrarem,é como numa visão de cinema,de novela antiga:flash-back."Afinal,não participei"."Eu não estava na direção"."Nem sequer comprei passagem".Na verdade,estava de passagem"..."E eu,que só ando a pé?"E eu,que não teria grana para embarcar nessa viagem?"..."Não tenho nada com isso"."Esse problema não é meu!"...
Pois,minha gente,é o que nos acontece nesse momento:o País sofre um desastre de imensas proporções.Todos correm para assistir:de perto,uns,pela Mass Media,impressa e escrita,outros.Todos comentam.Todos se revoltam.Há quem tire partido.Há quem se revolte com as declarações e notícias:o cidadão comum jamais ouviu falar assim num desmesurado dinheiro de tamanhas proporções.Na cueca ou na mala,nas contas,nos aviões.Mas por certo,não na consciência.
ENTÃO,BRASILEIROS,VAMOS
VAMOS FICAR SÓ OLHANDO?
(l*e*i*a*m "U*m p*a*s*s*e*i*o c*o*m
M*a*i*A*K*Ow*I*S*k*):
como nunca dizemos nada,já não poderemos dizer nada(quando quisermos FAZER,já será tarde,muito tarde.Quando quisermos FALAR,não mais seremos ouvidos)...
E ENTÂO O que vamos fazer,brasileiros?

Clevane Pessoa de Araújo Lopes,
DE LUTO!!!

Belo Horizonte,20,27h,depois da chuva,noite fria,em28/07/2005




O impossível
é imprevisível
só até acontecer
(Clevane Pessoa, em "Sombras feitas de Luz-Edit.Plurarts)

(*)Advogado André Ribeiro Leite.Seu lema:"Lutando com as palavras"...

(**)Site Direito e Poesia-onde,gentilmente,foi feito,para mim, um subsite:Antologia poética Clevane Pessoa de Araujo