DROGA

É fácil você criticar, se tiver bom senso, parar e pensar no seu passado confirmará que na sua juventude você também foi irresponsável, inconseqüente, muito louco.

É difícil reconhecer, até porque nosso orgulho está acima dessa verdade, você não quer demonstrar para seus filhos que é normal viver intensamente, curtir todos os segundos, não perder nada, participar de tudo, você tem muita energia para queimar quando vive sua juventude.

Você quer mostrar que é durão, que é certinho, vinha no horário que seus pais determinavam, não bebia, não fumava, não... nada que julga errado, pecado, coisas do tipo.

Duvido que você tenha sido santo, claro que você transgredia, gostava de aventuras, curtia e muito, agora fica regulando, colocando limites, dando uma de moralista, no que pode estar ajudando seus filhos?

Pega que a sociedade por muito tempo, ainda hoje, fechou os olhos para o que rola ao seu redor, incorrendo em omissão as famílias que residem na periferia, quanto maior a dificuldade, menor a possibilidade, mais distante e excluída essas famílias, pressionando principalmente o chefe de casa à bebida, foi se entregando ao álcool, que desencadeou em brigas conjugais, exemplos muito negativos para as crianças, que assistiram e viveram todos esses dissabores da vida. Os mais privilegiados evitavam e orientavam seus filhos a não ter amizade com pessoas dessa condição, distanciando ainda mais qualquer possibilidade de harmonia, nos dividimos, ricos e pobres, cidade e bairro, favela, violência, malandragem, etc.

Está deflagrada uma guerra, nós estamos inimigos, a sociedade permitiu chegar a esse ponto e agora fica criticando que o jovem se droga e acaba com a sua vida, quando também não acaba com a de terceiros, precisamos parar de tanta hipocrisia e encarar de frente essa realidade, nossos filhos também estão vulneráveis e correm riscos, porque na mesma escola hoje todos estudam, houve um achatamento e as classes sócio-econômicas estão mais equilibradas, houveram programas que subsidiaram moradias e permitiram a muitas famílias a aquisição do seu lar, contudo, os costumes não se alteraram, são pais que continuam bebendo, brigando e não se entendendo, grilando seus filhos que ficam sem chão e buscam o alívio através de meios que iludem, num primeiro momento parece legal, com o tempo leva o cara para o fundo do poço.

A religião é sem dúvida uma ferramenta muito eficaz e que nos ajuda a compreender melhor a situação, tanto para os pais como para os filhos, a religião poderia talvez investir numa sociedade que tivesse disposição para em conjunto administrar e trabalhar para quem sabe daqui a vinte ou trinta anos, permitir uma paz plena e uma perspectiva de dias melhores.

vladis.fernan@globo.com

Vladis
Enviado por Vladis em 29/05/2006
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