SOL SAL DOS DIAS

Moro há ano e meio no Passo de Torres/SC, uma aldeia de pescadores com cerca de cinco mil habitantes: sol, chuva, mar revolto e ventos. Areias a perder de vista, inquietas dunas. No jardim de casa, bênçãos diárias: abertas flores. Alguma terra preta aos punhados pras nossas plantas e tocos para as orquídeas. Estas amadas silvestres são olhos coloridos de Deus para o sal dos dias. Debruçam-se parasitariamente e cochilam ao sol tímido das invernias. Alegria para os viventes curiosos que passam. Leio e escrevo a miúdo. Construo algum tempo para o que gosto. Mas não quero dopá-lo com a mesmice não prazenteira. Tento fazer o mundo mais ameno, recriando-o pela Palavra. Por ora, reforço a crença na bondade humana e seus entornos. Recebo a virtualidade com a avidez dos que têm fome e sede. Que a inspiração me comande e a transpiração traduza em palavras sentimentos e idéias...

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2011.

http://recantodasletras.uol.com.br/mensagens/1603970