Dia galego das Letras

Por que dar o nome de "Dia das Letras Galegas" ao que poderia ser chamado "Dia galego das Letras"?

Antes, se fosse pensador lógico, questionaria essa teima por dedicar um dia a atividades ou vivências que abrangem ou deveriam abranger todos os dias de todos os anos, pelo menos, da nossa madureza pessoal. Mas nem levanto questão nenhuma.

É o costume, institucional, tão acirrado por nos convencer de que um dia, sendo um dia, também satisfaz o ano inteiro, que nem vale a pena perguntar à gente convicta (e não confessa) por que é que não berra contra os governos e contra os seus órgãos por nos tratarem tão grosseira e desconsideradamente.

Cá, na Galiza, esse território em que a Lusofonia tomou origem, as autoridades hispanófonas, dominadoras, permitem-se celebrar (sic) rituais vácuos perante monumentos a "pessoeiros" mortos, mas de novo amortalhados pelos média. Cravam na sua memória e, de passagem, na memória coletiva das pessoas flores de peçonha e miséria.

E os média, que elas, as autoridades, dominam e dirigem e também legalmente subornam, narram inenarráveis contos de grandeza, de sublimidades com sorrisos de carrasco e fatos brilhantes de cetim cinzento.

O que o Povo fez nada importa: Valem mais uma dúzia de bandulhos agradecidos que 50.000 pessoas reclamando o que é seu.

Por isso acertariam o governantes, se colocassem o adjetivo "galego" como qualificador de "Dia" e deixassem indefinidas as "Letras", que poderiam pertencer ao quíchua, ao guarani ou ao árabe ou romeno. Não cabe nelas o "castelhano" (ou "español"), salvo ironia, porque esse cá, na Galiza, berço da Lusofonia, tem o pé chantado na língua dos galegos durante todo o ano.