SALVEM O JOÃO

João saiu cedo pára o trabalho, como o faz todo o dia, não leva consigo a marmita com feijão, arroz e sardinha, João não leva nada. Já fora gerente de uma grande loja de eletrodoméstico, tinha tido esposas e dois filhos, mortos num grave acidente de carro, dirigido por ele, que muito embora, culpa nenhuma tivesse tido no acidente, aliás, inocentado pela própria justiça, não o foi pela sua consciência, havia bebido um pouco e isso o transformara num homicida, assim é que pensava. João na cabia em si de remorso, de dor da saudade, de vazio, de pena de si mesmo, João estava morto. Nesse dia, resolveu transformar em realidade algo que sentia existir de fato, ou melhor, não existir, sua vida. O suicídio era o melhor remédio e sem muito pensar, levou a faca consigo para o trabalho, e no trajeto, Niterói/Rio, chegando ao um determinado ponto, apontou a faca para o motorista do ônibus que o conduzia e o fez parar, nem deu tempo para nada, desceu da condução e pulou em seguida ao mar, de uma altura de quinze metros, caindo num pequeno barco que passava, tendo a queda amortecida por um pescador, o que o fez apenas continuar vivo com algumas escoriações, infelizmente o pescador morreu. Agora sim culpado, João foi condenado por homicídio culposo, e teve sua pena transformada em serviço comunitário além de tratamento psiquiátrico. João enlouqueceu e morreu sozinho e sem amor. Soube da História, que foi verdadeira, apenas mudei o nome da personagem, e fiquei imaginando um outro final que poderia ser dado a João. Acho que o acontecido aqui deve ser uma rotina no dia a dia desse mundo tão desumano. Que falta faz a solidariedade, hoje somos incapazes de olhar para o outro e perguntar:

- Precisa de ajuda? Posso lhe dar um carinho, um abraço?

Dito assim, leva a pecha de piegas, aliás, são muitas a pechas e muito mais a preocupações sobre o que “irão pensar os outros”, sobre atos de amizade e solidariedade que viermos a ter com o nosso semelhante, do que a real importância desses atos. É pena que o mundo caminhe cada vez mais para o anonimato das pessoas, para o confinamento das praticas altruístas nos pontuais grupos, raros grupos, de alto ajuda. Ainda podemos mudar o mundo, talvez começando pelas crianças, que tal um beijo pela manhã, outro no almoço e mais um ao dormir. Que tal um carinho três vezes ao dia? Que tal a presença nas boas e nas más horas do dia a dia? Acho que seria um bom começo. Talvez algum João agradeça e mude de idéia.