A RODA GIGANTE
Uma das coisas que me encantam no parque é a roda gigante.
Nos parques mais sofisticados há aparelhos avançados, mas a roda gigante continua sendo encantadora.
Já me falaram uma porção de coisas tolas sobre ela .
Coisas que assustam.
Coisas que desestimulam.
Coisas que, ouvidas, prendem a gente na mesmice por tolherem a coragem de tentar de novo, se cair.
Nesse sentido o que de mais terrível me disseram foi que ao estar eventualmente subindo eu devo me lembrar que em breve estarei me despencando.
Tudo o que sobe, cai. – garantiram eles tão científicos.
A roda gigante mostra essa verdade. - me falaram.
Os adultos são terríveis!
Mas eu não tenho juízo.
Faço a respeito um outro entendimento.
Para entrar na roda a gente está lá em baixo e é com cuidado que tenta se agarrar quando ela começa a subir. Dá medo, a gente sente um frio na barriga. Na primeira volta nem há tempo para se perceber lá em cima e vem um susto. Parece que a gente caiu. A sensação não é que vai cair, é que está caindo. Se a gente for muito bobinho a gente grita de pavor.
Mas já na segunda volta a gente começa a sentir o prazer do fluxo e refluxo da vida.
Não existe nada disso de subir, nem de cair. Existe o ritmo!
Duas coisas que a gente precisa apender para suportar o ritmo da vida : confiar e desejar.
Não interessa se barquinho ou transatlântico. Qualquer dos dois depende inteiramente da energia avassaladora do mar.
E o mar leva ao sabor das ondas.
Ou condena ao abismo.
Na roda a gente não imagina que sobe.
Sobe! Sobe e percebe!
No ritmo a gente pode nem perceber que vai subindo.
Mas sobe.
Cresce.
Na roda não é imaginação o estar no auge. A gente está lá em cima !
No ritmo a gente não precisa fingir que está flutuando nas alturas. Pode ser um breve instante. Mas, se agente está no ritmo, não há como não sentir que está no céu.
Haverá talvez um susto, uma energia forte que enlouquece.
A gente quase desfalece.
É quando a tenção se vai, no fluxo que desce.
( de meu velho Caderno de Capa de Pano - Pedaços de momentos)
ilustração Composição de Lucas Menck