CONFIDÊNCIAS ... BIOGRÁFICAS? (68): [Paixão e morte (?) da Mãe da Lusofonia] GA(li)ZA

Antom Freire Adám publica no RdL (23/01/2009.- T1400294) um texto que ele qualifica de "poesia > paz" e com certeza é; porém, é muito mais... É protesto, é denúncia, é rompimento com o discurso dominante sobre a GALIZA (inclusa hoje no "Reino de España"... onde o Chefe do Estado não é elegido pelos cidadãos, mas imposto pelo ditador Franco, o "anterior jefe del estado"...).

Intitula o poema «GA(li)ZA» e diz (desculpe-me o Poeta a disposição nem sei se acertada ou errante...):

GA ZA

li

... Da memória, resta-me só o esquecimento.

Expulsaram-nos das nossas casas, de uns territórios por outros

ocupados, condenaram-nos à terra de ninguém.

Passamos frio, e fome. Tivemos sede.

Arrancaram-nos dos nossos lares,

fizeram estranho o mais querido,

afastando-nos também entre nós:

cada qual para si, entre os muros das ideias,

das crenças,

mas nunca olhamos pela janela

e nos reconhecemos torre com torre, gueto contra gueto.

Presos sem celas, sem tecto, na ratoeira sem espaço,

excluídos da civilização, desamparados,

vimos sem dar crédito

como olhadas de milhões caíam sobre nós,

com vozes múltiplas de escândalo acompanhadas,

mas sem mão alguma para nos tender.

Fomos como animais acurralados.

Mas sofremos como humanos:

Jogavam a pontapés com a sua cabeça...

Obrigaram-no a beber o seu próprio sangue...

Esteve oito dias sem voz...

Sem pele, sem cabelo, abrasada, pura chaga viva,

como um fantasma ou esqueleto;

disse “vivo para testemunhar”:

Quisemos que a terra,

a terra nenhuma se abrisse

debaixo dos nossos pés;

suplicamos no deserto,

ansiamos que os céus,

os céus de todos se desmoronassem

sobre as nossas cabeças.

Imploramos um lugar onde desaparecer,

em que pudéssemos enterrar as nossas lembranças.

Deram-nos um deserto estranho, sem limites,

por onde vaguear, sem rumo, descalços e alheios,

para sempre desterrados.

Nem a própria cova possuiremos.

No entanto, cavalos de Tróia sob a forma de caixote,

tomamos as vossas casas,

nós os seres mais esquecidos,

estamos desde já de corpo presente perante vós,

como ferro candente nas vossas consciências,

como duendes nas ondas...

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Como não galego, ou como galego por opção, reconheço-me em tudo o que diz Antom e mais diria, mas não com melhor elegância.

O drama, a tragédia da Galiza, Mãe — com o norte português— da Lusofonia, vem de longe e apresenta tantos rostos quantos galegos intervieram nela... Os que ficaram na Terra e os que tiveram (mais do que quiseram) emigrar... (O Brasil pode testemunhar os rasgos de muitos desses rostos trabalhados pela vida e pela esperança...).

Houve galegos fiéis à sua Galeguidade e não só por transmitir aos filhos a língua e a cultura dos seus pais, ao cabo língua e cultura radical hoje de todos os Países lusófonos, mercê da expansão portuguesa.

Houve, porém, galegos infiéis (bastardos?) que procuraram e procuram esquecer as suas raízes, como —tristemente— Portugal, e com ele o próprio Brasil, ignora, desconhece ou deforma as suas raízes galegas. Porque, como Castela —primeiro reino arredista da "Hispânia"— se independizou do Reino da Galiza (e Leão), também Portugal tomou a sua independência desse mesmo Reino da Galiza.

Que transcorreram 1000 anos, dez séculos? E que são 1000 anos no decorrer da História? Não se reconhecem —ainda— traços galegos nas culturas nacionais mormente do Brasil e de Portugal? E a língua, essa cadeia subtil e encantada que nos une, donde procede?

(Abandonemos o invento dos moçarabismos a impregnarem o português de Portugal, porque esse português foi o levado ao Brasil e a Angola e a Moçambique e os outros países lusófonos e não se acha tingido, em regra, dos imaginários moçarabismos do português central, de Lisboa, filho antes da francesização com que os Notáveis portugueses, desde 1640, procuravam fugir da sua castelhanização maciça e filipina...)

Desde a minha condição de castelhano, confesso em voz alta que não entendo a marginalização que a Galiza sofre por parte dos países da Lusofonia, em especial, Portugal e o Brasil.

Entendo que o "Reino de España", como qualquer estado jacobino, procure esmagar, suprimir do seu território e das suas gentes o galego, ao fim PORTUGUÊS DA GALLIZA. É processo que está a levar adiante, com sucesso, desde a "castração e doma da Galiza" iniciada pela rainha castelhana, aliás, de Casa Nobre galega, Isabel, par com Fernando, conhecidos como "Reyer Católicos". Começou por impedir que o uso da língua portuguesa-galega tivesse efeitos administrativos; incutiu a ignorância nos seus utentes e hoje, sob pretexto de "normalizacionar" o "galego" obriga os meninos galegos e os funcionários da "Xunta de Galicia" a aprender um "galego" híbrido de português e castelhano, sob pretexto de que esse é a língua que fala o Povo...

Não entendo, porém, o abandono em que a Lusofonia tem deixado a Galiza e os utentes. Porque hoje, amigos, há um grupo de pessoas, a meu ver dignas e sábias, que, contra a política jacobinista, exterminadora que o "Reino de España" está a levar adiante na Galiza (mal chamada "Comunidad Autónoma de Galicia"), ... essas pessoas estão a opor-se pacificamente pelas vias que a cultivação das letras e das tradições, em geral, permite.

Em consequência, acho a completo pertinente o poema-denúncia ou declaração de PAZ do Antom: Como GAZA, a GAliZA está a ser exterminada sem que ninguém acuda eficazmente no seu auxílio.

Leiam o poema do Antom. Acho que incide nos factos mais graves acontecidos nesta Terra. E, se puderem, lembrem aos seus governantes que a Galiza é (ainda) TERRA LUSÓFONA de pleno direito.

Obrigado!