CONFIDÊNCIAS ... BIOGRÁFICAS? (57): Equilíbios desequilibrados ou...

Vou refletir não sobre nenhum texto, mas sobre a experiência em que biograficamente ainda me acho sumido: Padecimento de urina ou, como me dissera a doutora que me atendeu, infeção de urina...

A situação doente em que me acho já quase por uma semana inspirou-me reflexões diversas, divergentes, umas ridículas e outras profundíssimas (parecem-mo), quase de filosofia a fundar a essência do ser... Sim, a essência do ser: Grave expressão, que me comove e entusiasma.

As ridículas? Talvez as mais certas: Durante quase três dias careci de autonomia e mesmo de domínio do esfíncter... É muito triste ver-se incapaz de se dominar, ainda que o caso oferece uma face positiva que procurei aproveitar: Voltei, embora fosse apenas nisso, à infância e, voltando à infância (obrigadamente, certo, mas voltando...), fez a ilusão de cumprir o conselho do Senhor Jesus (não se me tome a irreverência, porque é certo) que nos convida a ser como meninhos, para entrar no reino dos céus...

E as profundíssimas? Vou sintetizá-las numa afirmação aparentemente contraditória: A fonte do maior prazer pode tornar-se em manancial (nunca melhor dito) de infortúnio e de moléstias impensadas. Daí (continuei matinando, porque na hora de maitinas é que eu refletia mais... nas matinas e mesmo antes delas...) a origem do ser, a sua essência, tem de ser como parto doloroso a seguir dos espasmos de prazer. Porque, se nos humanos (mulheres e varões) experimentamos tais contradições ou paradoxos (que o ponto do prazer pode tornar-se, como disse, em ponta de dores... e vice-versa!), igualmente no Universo e mais precisamente no Planeta que nos cria, os seres temos necessitadamente de surgir de um ponto de prazer e de uma ponta de dor.

Isso foi o que refleti. E acho que alguma razão devo de ter, porque o mesmo Deus, na Bíblia, ousa revelar-nos: «... agora grito, como mulher nas dores do parto; minha respiração se precipita» (Is 42, 14b) Ou também: «... vou fazer a paz correr para ela [Jerusalém] como um rio, e como uma torrente transbordante a opulência das nações. Seus filhinhos serão carregados ao colo, e acariciados no regaço. Como uma criança que a mãe consola, sereis consolados em Jerusalém» (Is 66, 12b-13).

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P.s.- Sei que talvez abusasse das citações de Isaías, mas não achei modo melhor de concluir esta confidência.