CONFIDÊNCIAS ... BIOGRÁFICAS? (20): Dois Amantes Distantes...
Ilze Soares (RdL, 07/01/2009.- T1372160) publica este poema, «escrito para a ciranda de mesmo nome, iniciada pelo poeta Marcial Salaverry». Mas achei tão engraçado, delicado e propositado que não resisto a tentação (feliz) de o copiar e comentar:
DOIS AMANTES DISTANTES
É dolorosa essa distância,
a falta do toque, do calor,
do abraço apertado, do beijo... o sabor...
Dois amantes têm uma real sintonia,
que nada impede que se amem.
Suas almas estão ligadas,
e, por telepatia,
sentem a presença e as carícias.
Almas apaixonadas,
se contentam com tão pouco,
que para elas é tanto!
Podem chamá-los de loucos,
não importa,
o amor que sentem os conforta!
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E vou fazer um comentário sem siso, insensato de todo: Não apenas a distância torna possível o amor em aparência impossível, como bem liriza a poeta, mas também pode até validar amores múltiplos que a proximidade impediria ou faria com que fossem irregulares.
Que impede, na distância, amar simultânea ou sucessivamente dous poetas, "poeta" e "poeto", "poeta" e "poeta", "poeto" e "poeto"? Dous ou mais, em número prudente ou mesmo imprudente?
Não há nos textos líricos, em regra, paixão intensa, expressão de almas apaixonadas?
E, sendo tão intensa a paixão, não acontece que, em regra, as almas que a lírica une, não se obrigam mais do que a abraçar-se com versos, a beijar-se com versos e mesmo a imaginar-se unos e até nus com apenas versos?
Nessa gozosa (e não dolorosa) distância o amor alcança quase o zénite da perfeição por se sublimar ao infinito no espaço, no tempo e nas circunstâncias culturais: A união vigorosa que fornecem as letras é muito mais grata e satisfatória do que os corpos, suados, juntos e enlaçados...
Que volúpia de profundidade amorosa não nos acarreta a relação lírica! Tendo-a, amigas, amigos, não preciso de mais nenhuma. Posso ser polígamo sem violar lei nenhuma. Não vos parece maravilha imperscrutável?