CONFIDÊNCIAS ... BIOGRÁFICAS? (17): Estado de feminilidade...
DENISE CARVALHO acaba de postar no RdL (06/01/2009.- T1370062) um poema, que me seduz por direto e, simultaneamente, por lírico; dele transcrevo os versos que me induzem a comentário:
ESTADO DE FEMINILIDADE
Seduz-me por inteira.
Devora-me com o olhar
Sinto-me divindade.
[...]
Canta-me e encanta-me
Cumpres o legado:
arrebata-me,
faz-me feminina.
[...]
Enlaça-me com pensamentos lascivos
Torno-me feiticeira do amor
Sua escultura
em noite de luar.
.........................................................................................................
Vou velho. Sei que há pessoas que bem me querem que recusam esta afirmação minha, mas o que e é... Bom, desde a torre ou a abismo dos anos reconheço que menos cada vez entendo as relações entre mulher e varão ou, o que não é o mesmo, de casal.
Liricamente adoita-se apresentar a mulher como a sedutora. É tópico quase edénico, sustentado pelas religiões do Livro. Mas pode tomar-se a sério? Quem é o que seduz a quem?
Acho bem diferente a perspetiva que coloca a mulher como centro ou Sol e o varão como planeta e não por mérito de uma ou demérito do outro, mas por "Lei da Natureza": A mulher lhe foi dado ser mãe de Vida, continuadora da espécie (que dizem). No poema (opino) exprime-se com plena adequação quando Denise faz equivalentes as ações de "seduzir", de "ser devorada" e de "sentir-se divindade".
Continua a delinear a centralidade da mulher nos versos seguintes, mormente nos últimos: «Torno-me feiticeira do amor / Sua escultura / em noite de luar.» Interpreto-os (e desculpe-me a poeta por me tomar tanta liberdade): A mulher cinzela o amor, sempre compartilhado, como com feitiços, benéficos, em noites de sabbat vivificadoras, sob o patrocínio da divindade que ela própria é.
Se esta interpretação, lírica, não erra demais, por que é que tanto amor espalhado pelo mundo adiante fica sem consumar? (Não digo a relação de carne e carne, mas a relação amorosa.)
Será que o varão pretende ser centro, quando não o é? Ou será que a mulher desiste de ser a referência vital que sim é?
Olho para a minha vida e também não acho resposta persuasivo...
E, se a relação entre a mulher e o varão não se acha centrada no eixo que cumprir, ambos serão pouco ou nada felizes. Talvez definitivamente...
Mas, se ambos, mulher e varão, se situam no eixo que lhes corresponde, a felicidade (a possível...) está garantida.
NOTA FINAL.- Não me parece que o varão tenha de ser "causa" ou "agente" de feminilidade na mulher; é esta, como bem assinala o poema, quem deve provocar no varão que a reconheça como "feiticeira do amor", "seduzi-lo". E ele, pobrinho, com (quase) toda a certeza acabará aceitando a sua condição de "planeta", quer dizer, de «corpo celeste [sim, mas] sem luz própria que gira em torno do Sol.» É a feliz sina que nos reservou a Natureza...