Feliz ano novo
Cético que sou, sempre achei o ano novo apenas a próxima etapa do mesmo tempo. Uma convenção chamada calendário. Uma “troca de tabuleta”, como diria Machado de Assis, referindo-se à República que sucedeu o Império. Um ano vai, outro começa, num eterno continuar, sem fim. Tão previsível como dízima periódica.
No entanto, mesmo sendo esperáveis, a vida ou o tempo, fique a seu critério, ainda são capazes de nos causar muita surpresa. É esta esperança de nos espantar com o novo ano que nos atiça, nos cativa e nos submete como crianças aos caprichos de viver um dia após o outro, a driblar o tédio e a vislumbrar alvíssaras.
Não perca a fé, meu amigo. Mesmo que você não acredite em melhorias e prefira a angústia à esperança, o jiló ao mel, o passado ao porvir, tenha certeza: o mundo, tampouco a humanidade, não o odeia. É você mesmo que optou pelo isolamento. Quebre a casca, deixe de ser ostra (sem intenção de viadagem). Destramele a janela que a lufada do vento da esperança entrará pelo desvão de sua vida, levantará seus cabelos e oxigenará seu coração tão sem vida. Feliz ano novo para todos nós.