Reconstruir Vidas
Reconstruir Vidas
Jorge Linhaça
Existem momentos em que eu bem gostaria de estar errado em minhas previsões...como bem disse dias atrás a mídia já começa a falar não mais do que superficialmente sobre a tragédia de Santa Catarina.
É bem verdade que a campanha de arrecadação de gêneros alimentícios e material de limpeza já superou todas as expectativas.
Não disponho de dados mais concretos sobre os outros estados brasileiros, mas a resposta do estado de São Paulo já superou a marca de oitocentas e cinqüenta toneladas de doações e a defesa civil de São Paulo pede que se priorizem as doações em dinheiro.
Em Santa Catarina, as cidades atingidas, no geral, vão retomando o seu ritmo, as estradas vão sendo desbloqueadas...já se vêem pinheirinhos de natal em muitas casas...ícones de uma esperança teimosamente renascida diante de um mar de solidariedade que movimentou e ainda movimenta toda a nação e os brasileiros e amigos no exterior.
A resposta da população de muitas cidades atingidas é algo de fazer inveja a qualquer produção de Hollywood. Cidades até bem pouco tempo devastadas, em poucas semanas já se aprontam para receber os visitantes na temporada que se inicia.
O trabalho árduo da limpeza e da reconstrução do patrimônio físico, ao mesmo tempo resgata um pouco da dignidade de todos os envolvidos nesse mutirão em que a fome e a sede são esquecidos diante do desejo de apagar, na medida do possível, as marcas físicas da tragédia.
Bravo povo, brava gente, unida por um ideal, mesmo que momentâneo.
No entanto, é bom lembrar que mais de 27.000 pessoas estão alojadas em casas de parentes e amigos, além das cerca de 7000 que ainda dependem dos abrigos públicos.
Em Gaspar, palco da mais recente tragédia que culminou na morte de um casal de idosos, os moradores abandonam seus lares de vez, carregando aquilo que podem, sabe-se lá para onde.
O drama dessas famílias e dos desabrigados não vai acabar quando a mídia deixar de noticiar as "novidades" do dia na região. Esse drama ainda se estenderá mesmo quando encontrarem outra moradia.
Não se pode esquecer que as pessoas fazem a sua história pessoal , estabelecem suas fronteiras e estreitam laços nas comunidades onde residem.
Ao contrário do que acontece nas grandes metrópoles, onde a imensa maioria não cria relações afetivas com sua moradia, já que é mais comum mudar de bairro, de casa e mesmo de região,
nas cidades menores a vida é construída quase que hereditariamente em volta do mesmo pedaço de chão.
Estamos falando de várias gerações residindo em um mesmo local, de uma cultura diferente da realidade à qual estamos acostumados. São sonhos idealizados e construídos ao longo de uma vida...existe uma genealogia dos locais ocupados, laços de afetividade com a terra ocupada, com a paisagem ao redor, com os visinhos de décadas.
Hoje a paisagem é de escombros, os morros que ontem abrigavam as casas hoje já engoliram muitas delas e ameaçam as restantes.
Mesmo quando o risco iminente passar, o trauma será revivido a cada nova chuva apertando o coração de quem viveu estes dias de terror.
Reconstruir vidas é o grande desafio que se nos apresenta neste momento, sim amigos, se apresenta a todos nós e não apenas aos catarinenses. Claro que a grande maioria de nós não estará lá presente para acompanhar esse processo "in loco" mas sempre nos resta a alternativa de um contato por carta, por e-mail, por telefone, com algum antigo ou novo amigo das áreas atingidas.
Em vários grupos da internet existem catarinenses que viveram de perto esse drama.
Os catarinenses são um povo forte e perseverante, mas pode-se ver nos olhares hoje opacos de muitos deles as marcas gravadas a fogo no fundo de suas almas.
São feridas ainda abertas, como que a imitar a terra fendida pela erosão...as feridas vão se fechar...para alguns a cicatriz será quase imperceptível ao olhar, no entanto, para outros ficarão as marcas expostas como quelóides da alma.
Aos que puderem renovamos o nosso convite:
Visite Santa Catarina nestas férias...ajude a reconstruir vidas!
Jorge Linhaça
ativista da INCAPAZ
anjo.loyro@gmail.com
Arandú, 9 de dezembro de 2008
Reconstruir Vidas
Jorge Linhaça
Existem momentos em que eu bem gostaria de estar errado em minhas previsões...como bem disse dias atrás a mídia já começa a falar não mais do que superficialmente sobre a tragédia de Santa Catarina.
É bem verdade que a campanha de arrecadação de gêneros alimentícios e material de limpeza já superou todas as expectativas.
Não disponho de dados mais concretos sobre os outros estados brasileiros, mas a resposta do estado de São Paulo já superou a marca de oitocentas e cinqüenta toneladas de doações e a defesa civil de São Paulo pede que se priorizem as doações em dinheiro.
Em Santa Catarina, as cidades atingidas, no geral, vão retomando o seu ritmo, as estradas vão sendo desbloqueadas...já se vêem pinheirinhos de natal em muitas casas...ícones de uma esperança teimosamente renascida diante de um mar de solidariedade que movimentou e ainda movimenta toda a nação e os brasileiros e amigos no exterior.
A resposta da população de muitas cidades atingidas é algo de fazer inveja a qualquer produção de Hollywood. Cidades até bem pouco tempo devastadas, em poucas semanas já se aprontam para receber os visitantes na temporada que se inicia.
O trabalho árduo da limpeza e da reconstrução do patrimônio físico, ao mesmo tempo resgata um pouco da dignidade de todos os envolvidos nesse mutirão em que a fome e a sede são esquecidos diante do desejo de apagar, na medida do possível, as marcas físicas da tragédia.
Bravo povo, brava gente, unida por um ideal, mesmo que momentâneo.
No entanto, é bom lembrar que mais de 27.000 pessoas estão alojadas em casas de parentes e amigos, além das cerca de 7000 que ainda dependem dos abrigos públicos.
Em Gaspar, palco da mais recente tragédia que culminou na morte de um casal de idosos, os moradores abandonam seus lares de vez, carregando aquilo que podem, sabe-se lá para onde.
O drama dessas famílias e dos desabrigados não vai acabar quando a mídia deixar de noticiar as "novidades" do dia na região. Esse drama ainda se estenderá mesmo quando encontrarem outra moradia.
Não se pode esquecer que as pessoas fazem a sua história pessoal , estabelecem suas fronteiras e estreitam laços nas comunidades onde residem.
Ao contrário do que acontece nas grandes metrópoles, onde a imensa maioria não cria relações afetivas com sua moradia, já que é mais comum mudar de bairro, de casa e mesmo de região,
nas cidades menores a vida é construída quase que hereditariamente em volta do mesmo pedaço de chão.
Estamos falando de várias gerações residindo em um mesmo local, de uma cultura diferente da realidade à qual estamos acostumados. São sonhos idealizados e construídos ao longo de uma vida...existe uma genealogia dos locais ocupados, laços de afetividade com a terra ocupada, com a paisagem ao redor, com os visinhos de décadas.
Hoje a paisagem é de escombros, os morros que ontem abrigavam as casas hoje já engoliram muitas delas e ameaçam as restantes.
Mesmo quando o risco iminente passar, o trauma será revivido a cada nova chuva apertando o coração de quem viveu estes dias de terror.
Reconstruir vidas é o grande desafio que se nos apresenta neste momento, sim amigos, se apresenta a todos nós e não apenas aos catarinenses. Claro que a grande maioria de nós não estará lá presente para acompanhar esse processo "in loco" mas sempre nos resta a alternativa de um contato por carta, por e-mail, por telefone, com algum antigo ou novo amigo das áreas atingidas.
Em vários grupos da internet existem catarinenses que viveram de perto esse drama.
Os catarinenses são um povo forte e perseverante, mas pode-se ver nos olhares hoje opacos de muitos deles as marcas gravadas a fogo no fundo de suas almas.
São feridas ainda abertas, como que a imitar a terra fendida pela erosão...as feridas vão se fechar...para alguns a cicatriz será quase imperceptível ao olhar, no entanto, para outros ficarão as marcas expostas como quelóides da alma.
Aos que puderem renovamos o nosso convite:
Visite Santa Catarina nestas férias...ajude a reconstruir vidas!
Jorge Linhaça
ativista da INCAPAZ
anjo.loyro@gmail.com
Arandú, 9 de dezembro de 2008