BRASILEIROS NO JAPÃO: SONHO OU PESADELO ?
Brasucas no Japão
Sonho ou pesadêlo?
Jorge Linhaça
O sonho do Eldorado nipônico muitas vezes freqüenta as mentes dos nipo-descendentes e mesmo dos que não tem ascendentes japoneses.
Ganhar muito, fazer seu pé de meia e quem sabe voltar ao Brasil em poucos anos para construir o seu próprio negócio, parece ser uma idéia bastante tentadora, como outras tantas.
Poderia aqui falar de tantos outros países, mas , as informações que tenho recebido do Japão são assustadoras e preocupantes demais neste momento.
Podemos começar pelo choque cultural enfrentado pelo imigrante que chega a um país onde, via de regra, não sabe nada sobre a cultura e o idioma, alguns até falam um mínimo de japonês, mas chegam na condição de analfabetos à terra do sol nascente.
O agenciamento de trabalhadores esconde muitas armadilhas que passam despercebidas a muitos, é obvio que existem empresas sérias, no entanto , como em todos os setores existem aqueles que pura e simplesmente são aproveitadores.
Mesmo as sérias escondem armadilhas, não por má fé, mas talvez pela ansiedade dos que buscam o pote de ouro no fim do arco-íris. Raros são os dekassegui que chegam ao japão sem estarem atrelados a dívidas e compromissos assumidos, sem se darem conta que nem tudo é um mar de rosas.
Na verdade, o que tenho constatado por relatos recebidos através de nossos companheiros da INCAPAZ, o mar tem muito mais espinhos que pétalas de rosas.
Os brasucas, via de regra, são destinados ao trabalho braçal, aos empregos de menor qualificação, considerados pelos japoneses indignos de serem executados por eles próprios.
O idioma e as próprias relações de trabalho são barreiras a serem contornadas de pronto.
A ilusão dos grandes ganhos se perde quando se percebe que existem grandes gastos.
Aqueles que são mais consumistas ou gostam da noite, logo percebem que trocaram seis por meia dúzia ao irem para o Japão.
Aqui ao menos sabem como agir diante das dificuldades, comprrendem o idioma, tem um certo conhecimento das leis, de seus direitos e deveres...
Quando se trata de famílias constituidas, aqui ou lá, a situação acaba por piorar.
Confesso que só agora tomo conhecimento de muitos fatos que beiram aa raias do absurdo, inclusive no que diz respeito à legislação brasileira.
Como no Brasil o direito de nacionalidade é adiquirido por "jus solo"
ou seja , pelo nascimento e registro no território nacional, os brasileirinhos nascidos em outros países não são automaticamente brasileiros, tendo de enfrentar uma burocracia , ou "burrrocracia" absurda para se tornarem brasileiros, independente de seus pais serem cidadões brasileiros.
Por outro lado, também não são cidadões japoneses, já que lá a cidadania é "jus sanguinus" ou seja , se dá pela árvore genealógica e não pelo local de nascoimento.
Isso não é exclusividade do Japão, mas de todos os países mais antigos. Eu, por exemplo sou cidadão portugues a partir dessa premissa.
Mas voltando ao caso dos brasileirinhos nascidos no estrangeiro, cria-se assim uma multidão de apátridas, cidadões sem pátria e sem identidade cultural. Não pensem que isso é pouco.
As crianças crescem, precisam de escolas, e aí outro problema de grandes proporções envolve as famílias imigrantes.
Aproveitadores inescrupulosos, que me desculpem os japoneses e brasileiros envolvidos nesta questão, criaram em território japonês, sob o olhar passivo das autoridades, o que se costuma chamar de " Escolas brasileiras" onde o ensino é ministrado em português.
Ah, dirão alguns, mas que coisa boa e estraordinária...nem tanto...grande parte dessas escolas nãoé reconhecida nem aqui nem lá, embora as crianças vivam no Japão, via de regra não se ensina o japonês e , o pior de tudo, se nas escolas japonesas as mensaliadades são de 100 dólares , incluidos ai todo materil, passeios etc, nas ditas "escolas brasileiras" explorasse decaradamente essa parcela da população, com mensalidades que em algusn casos podem chegar aos 800 dólares, sem contar material etc, pagos à parte.
Salvo algum engano de minha parte, em algum detalhe, a realidade é esta: escolas criadas por estelionatários! Não há outra palavra para definir tal realidade.
Não há o que justifique tamanha discrepância nos valores cobrados e nem o que justifique a omissão do governo japonês quanto à exploração a que são sujeitos os brasileiros que estão lá trabalhando, gerando divisas para a indústria nipônica.
A crise econômica mundial, criada pela incompetência do governo Bush, mais preocupado em criar guerras fictícias do outro lado do mundo do que em cuidar de seu próprio quintal sustentando pelas colunas podres do protecionismo, dos subsídios e da hipocrisia, agora chega até o Japão.
Certamente não por acaso, pois a honra sempre defendida pela cultura milenar e ancestral, após a segunda guerra mundial, cedeu lugar à ambição e ao capitalismo selvagem.
Várias montadoras japonesas já fizeram os primeiros cortes de funcionários. Adivinhem quem foram os escolhidos..claro...os brasileiros, peruanos e outros estrangeiros.
A situação lá é calamitosa para os nossos compatriotas, uma grande parcela de brasileiros está dormindo ao relento , dependendo de sopões e da caridade alheia para sobreviver.
Os alojamentos onde viviam tiveram de ser desocupados, já que pertencem ou às empresas contratantes ou às agências de empregos.
Voltar para o Brasil?
Mesmo os que tem dinheiro, neste momento esbarram no fato de que os voos nesta época do ano estão lotados, restando como única opção voos que venham, pelos Estados Unidos, onde, acreditem ou não, para fazer uma simples conexão no aeroporto é necessário visto americano, o que, obviamente quem vai trabalhar no Japão, não há de ter como prioridade.
Esperar que o nosso glorioso Itamarati tome alguma providência assim sem qualquer tipo de pressão, é acreditar em histórias da carochinha.
Se existe um governo históricamente omisso em relação aos brasileiros no exterior, esse é o governo brasileiro.
Foi assim quanto aos problemas dos dentistas brasileiros em Portugal, tem sido assim quanto aos abusos dos espanhois contra brasileiros em seus aeroportos, é assim nos casos de brasileiras que por pura ignorância se casam com árabes e veem seus filhos serem praticamente sequestrados para aqueles países, não há de ser diferente no caso dos brasucas no Japão.
Se alguém tiver alguma idéia de para que serve o tal do Itamarati, além de formar diplomatas de carreira, que obviamente devem ser treinados para lamber os pés de outros governos ao invés de lutar pelos direitos dos brasileiros em solo estrangeiro, por favo tome a palava e me informe.
Mas não me venha com xurumelas, com semântica, dialética ou conversa para boi dormir...venha com fatos...mostre-me o que o Itamarati fez de concreto por qualquer cidadão brasileiro comum no exterior.
Se alguns filhos desta terra, daqui saem em busca de melhores salários é por que aqui as multinacionais pagam bem menos do que lá fora pelos mesmos serviços prestados.
E não venham me dizer que aqui essas empresas ganham menos, pelo contrário, o equivalente ao que se paga por um carro popular aqui, levando-se em conta o salário dos operários brasileiros, por certo é o suficiente para adquirir um modelo de luxo no exterior.
Tanto é verdade que as montadoras vem para cá e a fatia maior de seus lucros é conseguida com a exportação de modelos fabricados aqui.
Isto posto, muita gente deve estar se perguntando...E aí Linhaça, qual é a solução?
Sinceramente eu não sei, mas qualquer solução que venha a ser apontada, há de passar primeiramente pela cosncientização da realidade que acontece do lado de fora de nossas portas, sempre tão abertas e acolhedoras aos estrangeiros.
Pressionar as autoridades em busca de soluções ? Talvez funcione, mas talvez o melhor caminho seja pressionar a grande mídia que sempre se mantém alheia quanto a tomada de atitudes limitando-se a relatar este ou aquele fato como se fosse apenas uma coisa trivial e quase sem importância.
Repassar este e-mail para o maior número de pessoas possíveis, na esperança de que caia nos olhos de quem detenha algum poder para fazer algo de concreto não é uma má idéia...
Calar e deixar as coisas se "resolverem por si mesmas" é por certo a atitude que a maioria vai tomar, infelizmente.
Eu não poderia, na qualidade de ser humano e de ativista da INCAPAZ, calar-me diante dos fatos, não poderia, sabendo do que acontece lá fora, ainda que superficialmente, deixar de soltar a minha voz em defesa de nossos irmãos.
Que cada um aja de acordo com a sua consciência e quantidade de amor ao próximo que possuir em seu coração.
Arandú, 5/12/2008