ÁGUA EM PLENO DESERTO

“Poeta! Não quis lhe criticar, apenas te passar que realmente pra mim é mais importante: poder premiar as pessoas com textos simples e que todos possam entender. Agradeço suas dicas, sim, eu estou aprendendo nesse grande e atrativo meio que é o das poesias... Saiba que tudo que faço aqui é com muita responsabilidade e tudo que escrevo é com o coração... Amo a poesia, amo a sua poesia, é claro que tenho muito a aprender... Estou aqui, tentando sempre fazer o melhor... Obrigada pela amizade e desculpa qualquer coisa... Beijos.

Anjopoesia.

– Via Orkut, 04/10/2008, 20h02min.

Amiga querida! Não está em causa a minha ou a tua Poesia, que sempre serão coisas e abordagens diferenciadas, porque temos mundos diferentes, e é este rolar no mundo que produz os versos sobre tal ou qual... O que pretendo é contribuir para que tenhamos instigação, provocação sobre o que é em si o ato de poetar e fazer versos. Mesmo não te conhecendo pessoalmente, sei que estás dando o melhor de ti quando de tua criação naquilo que tu achas que é Poesia... Sempre terás alguns afetos a louvar os teus textos, mas para chegar ao poema que possa vir a ficar para o futuro – geralmente depositados nos livros didáticos – é necessário que não fiquemos só acreditando que a sensibilidade e a inspiração bastam. Estou tentando dizer, com o carinho de sempre, que aposto em ti como criadora poética e que é preciso estudar os clássicos. Se quiseres vir a ser poeta, é preciso ler os que chegaram antes, trocar ensinamentos com os afamados, os consagrados. Confabular com eles, os que já passaram pra história da Poesia de seu povo, de sua gente. Do nada nasce o nada... Nada a desculpar, em nada me ofendeste. Ao contrário, estás tentando te comunicar e a defender a tua criação, o teu texto, que é sempre o melhor de nós, aquilo que podemos fazer naquele momento dado. Cumpro a minha missão de analista crítico. A mim nunca serão reservadas loas, elogios, porque exerço o papel mais difícil, o da provocação ao pensar objetivando um modelo estético que nunca será o meu, quando muito poderá haver alguma similaridade... Ler, ler, ler sempre... Este o recado. Que não tenhas medo de ler os outros poetas e escritores. Repito o que já disse várias vezes, relembrando algo do pensamento poético atribuído ao grande conterrâneo Mario Quintana: em Literatura, particularmente em Poesia, não há influência. Ninguém nos influenciará a escrever assim ou assado... Tu descobrirás a boa fonte e beberás de sua água. Matarás a sede, mitigarás o calor e sairás novamente ao sol dos caminhos. O que existe em Poesia, ao beberes da boa água, é a confluência do que pensas e o reconhecimento de que nem sempre se consegue rabiscar para o coletivo... O iniciante busca caminhos e nem sempre sabe onde estão as fontes pra matar a sede. Quem está calejado de andar – como eu – pode indicar algumas sendas camufladas nas veredas de sois e chuvas. Se poetar é gestual pronto de fraternidade e de amor, fazer a contribuição crítica é o mínimo pra quem quiser se redesenhar em humanidades. Instaurada a dúvida, cada um vai encontrar caminhos na beleza de sua própria poesia. A jarra d’água vai estar pura e limpa ao caminhante. Mas nem todos gostam de buscar fontes no duro caminho do que ainda não tem rotas próprias. Os poetas são navegantes. Ou seja, os que navegam antes de alguns outros. Estamos no deserto. Bebamos a água boa do oásis.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2012.

http://recantodasletras.com.br/mensagens/1230169