FUGA SEM SENTIDO
Minha vida sempre esteve dentro de um padrão aceitável pela sociedade onde vivi.
A inquietude, em relação à desigualdade social - no mundo em derredor, era uma constante; e durante muito tempo pensei que expor minha visão crítico-social através da palavra escrita (livros) ou falada (programas de rádio) fosse à solução – através da reflexão a sociedade contemporânea mudaria a forma passiva como age, reage e interage.
Considerando-se que ainda não era conhecido como escritor, fiz uso de piadas e anedotas populares, tornando engraçadas as situações reais abordadas - certamente, atraídas pelas estórias bem humoradas, as pessoas fariam uma pausa para reflexão e, iriam repensar os rumos que estão dando ao mundo.
Sim, fazia sentido. Poderia ser a solução para despertar nas pessoas o senso crítico; entretanto, muitos passaram a rir das anedotas sem demonstrar que a crítica social teria alcançado o objetivo principal daquele projeto de vida.
As situações bem humoradas do cotidiano fazem rir e o riso faz bem. Contudo, necessário se faz, na existência de uma linha de equilíbrio entre o alegrar-se de forma saudável e levar a vida rindo a toa.
Não devemos viver rindo (ironicamente) de todas as coisas, enquanto o mundo a nossa volta permanece um caos.
Existe muito pranto, muita tristeza, muita dor, muita decepção no mundo que nos envolve.
Não haverá como promover a transformação interior sem mudança de atitude (disposição íntima), a qual ,será impossível, se não encararmos com seriedade o contexto onde estamos inseridos como agentes de transformação social.
Nesse sentido escrever crítica social recheada de anedotas foi uma fuga a um horizonte sem sentido; porque além de descaracterizar a proposta original do projeto (onde estaríamos construindo o pensamento para um mundo bem ajustado), estimulou as pessoas a continuarem rindo a toa, enquanto permaneciam agindo com passividade.
Está escrito:
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Eclesiastes 7:2).
Atualmente, a aventura ou desventura humana permanece, sem que, nossa palavra escrita ou falada surta os efeitos desejados; contudo, temos a certeza do dever cumprido.