O JOGO AMOROSO NA POESIA FEMININA

“...

Olhos ao longe (tão longínqua distância...)

sou voz perdida, sou desterro

sou muito menos agora

que as entrelinhas deste poema...”

– Lígia Leivas, excerto de “Entrelinhas”: http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/1139979

É interessante e chama a atenção, no poema lírico-amoroso de vertente feminina, a afirmação niilista, o nada reafirmado no alter ego poético.

Entendo que esta é um dos mais fortes vetores do nascimento do poema, o qual é a materialidade da Poesia, o significante que busca significado...

E estes laivos espirituais nascem para negar a realidade, recriando e transcendendo o que é antagônico ao espiritual dentro do poeta.

Parece-me que é uma das poucas vezes em que, na tridimensionalidade da Poesia: fato - transfiguração desta matéria da vida - poesia feita obra (poema), em que o seu criador não vê somente o fato gerador do poema e, sim, o próprio significante - significado.

Normalmente o autor-criador não consegue perceber o que escreveu e, sim, o que deu origem ao escrito, que lhe é fonte, causalidade.

Talvez por isso o brasileiro acredite tanto na tal de INSPIRAÇÃO, que é a profunda rememoração dos jogos amorosos do eixo de viver com prazer. Aquilo que é reafirmado intelectivamente no tal "Valeu? Tudo vale a pena..." que nos legou Pessoa, em linguagem poética.

E o que fazer com os homens, em nossa precariedade de observação, que sempre queremos entender e compreender tudo?

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/1140823