Torrentes de Palavras
Há algum tempo, tenho me esquecido de um dom que me foi confiado por Deus. Diante dos erros, da falta de tempo, das desculpas, esqueci-me o dom de brincar com as palavras.
A folha era para mim, o que a tela é para o artista. As palavras fluíam como que em jorros de tintas que se completavam mutuamente, apaixonadamente. Não existia vergonha, ou rotina, ou lágrimas que me impediam de montar a obra, de tecer com fios da vida, o que se passava dentro de mim. Tudo era vivido, sentido e transcrito para o papel. A poesia havia se tornado parte de mim e era como ela que eu enxergava tudo que estava ao meu redor. Era com esta parte que os momentos tornavam-se verdadeiras inspirações.
Pouco a pouco fui atraída pela simples e mera realidade, transformando os meus dias cheios de poesia e rotinas melodramáticas, cheios de nada... Comecei, sem perceber a princípio, a deixar de acreditar, a deixar de patinar no imenso lago das palavras e passei a não produzir mais nada. Escrever já não é tão simples como antes. Às vezes, perco-me ao não conseguir transcreve para o papel o que se passa dentro de mim. Queria escrever, sentir cada sentimento e transcrevê-lo com a pureza e com a emoção, mas o medo passou a dominar as minhas vontades e a afogar o meu dom...
Hoje, percebo o que fiz ao alimentar o medo de escrever. Ao tornar este sentimento real, consegui convencer a mim mesma de que parar de escrever era justificável, para de ver beleza nas coisas e nas pessoas era justificável. Tola ilusão!!! Fechei-me em uma ilha onde as águas que me cercavam, eram cheias de medo, dor, insegurança, desespero, decepções, melancolia. Passei a respirar e a beber desta água, prendendo-me ao que passou e esquecendo-me da melhor parte que existe em mim: A crença da possibilidade e o amor acima de tudo.
Decidi, mesmo que timidamente, voltar às minhas origens. Navegarei hoje, pelas águas do meu ser, indo de encontro a quem realmente sou, sem medos ou máscaras, sem justificativas ou desculpas. Navegarei hoje no meu passado, no meu presente e retomarei os meus sonhos, para mais adiante, nadar em ao futuro que me espera de portas abertas.
Hari Alves
Tx. de Freitas, 19 de agosto de 2008
Revisado em 08. De dezembro de 2012