Infância
Busco em mim a criança perdida no tempo
Quero sentir de novo o vento batendo em meu rosto,
o ar quente das manhãs de verão, a suave brisa das tardes de outono
o perfume das flores na primavera, o aconchego do lar no inverno.
Voltar a ser a menina que meio moleque subia em árvores para colher frutas frescas e as comer ali mesmo, com gula, com gosto.
Saudades do pé de caqui, de pêra, do pessegueiro, vontade de colher figos e as “mimosas” no quintal. As parreiras de uvas miúdas e pretas, as amoras e a framboesa que cresciam junto a cerca do pomar.
Eram tantas frutas diferentes, tantos sabores que nunca mais sentirei enquanto viver. Haviam flores tão exóticas e diferentes no jardim,
algumas que nunca mais vi iguais desde então.
A água fresca que era tirada do poço na hora da sede,
os campos em que eu corria a brincar com meus irmãos e os amigos.
Os rios onde se pescava lambari, cará, bagres e onde sempre se podia brincar, nadar e catar pedrinhas. Seria bom até voltar a sentir o pavor de sapos, dos quais eu corria morrendo de medo.
Ir para a escola todas as manhãs, alegre, sorridente,
de guarda-pó branco, meias brancas e conga azul.
Assistir e também jogar futebol no campinho, jogar bolinha de gude valendo “ as boa” ou “ as meia”. Empinar “pandorga” feita em casa com paina, barbante, papel de seda e cola feita de trigo e água. Fazer bonecas de pano pra poder brincar de casinha, brincar de “roda” no meio da rua nas tardes de domingo. Ajudar a cuidar da criação e da horta, e se anoitecesse antes de acabar as tarefas e a fome viesse assar batata-doce numa fogueira ou então comer todo feijão que Nho Veloso fazia em seu caldeirão de ferro no fogão feito de barro. Cavalgar junto ao lagoão sem sela, nem pelego, usando as crinas dos pangarés como rédeas. Saudades do tempo em que nos reuniamos em mais de vinte crianças para brincar de polícia e ladrão com nossas “armas” feitas de madeira por nós mesmos. Comer pão quentinho ou então broa de centeio com chá de “maçanilha” ou erva-doce.
Esse tempo de inocência e alegria que nunca voltará,
e faz parte agora dos livros de história e folclore apenas.
Adelaide Wlodkovski
26/11/03