ZUMBI (cor)
(corrigido)
- Porque todo o mundo é contra nós os negros, em ? Vejam mais de ceento e vinte anos se passaram depois que este Capitão-do-mato que aí estava com todos os seus asseclas, exterminaram com o povo de minha humilde nação. Não respeitaram ninguém, nem velhos, nem crianças, nem enfermos, nem mulheres, nada.
O meu povo era ordeiro, e por muito tempo foi submisso, fomos nos libertando aos poucos, desculpem-me por dizer em liberdade; primeiro a "Lei do Ventre Livre", depois a "Lei do Sexagenário", bem não me lembro qual veio primeiro e finalmente a "Lei Áurea".
Mas qual foi o pecado nosso em termos nascidos negros ? Pecado do qual até agora não conseguimos perdão...
A ira até agora de nossos antigos donos ainda é implacável. Estamos aqui contra a nossa vontade, pois fomos sequestrados e raptados de nossa terra natal, com suspeita de cumplicidade dos nossos irmãos, sem nunca mais termos ao menos uma esperança de lá voltar. Outros já nasceram aqui e só conheceram a nossa terra natal atravéz de nossos cânticos de saudades.
Bem logo após termos tomado conhecimento que a Pricesa Izabel, num ato de rara bondade nos havia libertado, isto já passado dois anos após, nos descuidamos em andar pelas matas, quando nos descobriram e nos seguiram até o nosso quilombo.
Numa ação de grande covardia, nos atacaram enquanto dormiamos, meu Deus que tragédia. Meu povo que lutar não sabia, pois eramos todos treinados em afazeres de fazendas e só sabiamos empunhar ferramentas agrícolas. Levantamos aturdidos e ainda zonzo de sono e caímos nos facões e tiros de buquamartes, dos emboabas que gritavam:
- Toma negros a liberdade dos imperiais...
Era bem diferente da liberdade que sonhavamos. Queriamos andar como os brancos, trabalhar como os brancos, amar como os brancos...
Na liberdade deles, encontramos nas mãos deles a nossa morte.
Eu ainda muito ferido, tive forças para subir no alto de uma colina, observando de lá a chacina contra a minha nação. Depois de muito sofrer, muito desespero, morri...
Algum tempo depois me via flutuando até onde minha vista alcançava, voava de um lado para outro, subia, descia numa incrível velocidade, custei a compreender que não havia morrido, mas sim desencarnado. Dependi de muito auxilios, até compreender que a minha missão continuava.
Tentei então reorganizar meu povo, observando que ali não mais estavam. Não sabia onde procurar até quando alguém me surgeriu que esperasse a data de aniversário da Abolição.
Reunimo-nos todos então e repetimos sempre nessa data nossas reuniões, agora além de nossos inimigos desencarnados do passado que até hoje nos perseguem, descobrimos que continuamos mais escravos do que nunca, pois o meu povo ignorante, inculto, atraasado. somos levados por promessas materialistas dos brancos vivos e desencarnados ( incluir aí, mamelucos, mulatos, índios, e porque não negros ) ainda mais maliciosos e também negros descendentes de outros quilombos e também do nosso, mas os que não tiverama mesma má sorte que nós, mais possuem a mesma ambição materialista dos brancos e outros, como aquela da liberdade que nós tinhamos.
Portanto, a única coisa que nos resta é um pedacinho de esperança de que a Princesa Izabel da espiritualidade, venha nos libertar de quase dois séculos de lágrimas, de sofrimento e que nos liberte dessa nova escravidão de sermos eternamente:
" Nêgo Veio "
" Pai Tomé "
" Pai João "
Goiânia, 13 de maio de 1981
" Z U M B I "
- Porque todo o mundo é contra nós os negros, em? Vejam mais de cento e vinte anos se passaram depois que este Capitão-do-mato que aí estava com todos os seus asseclas, exterminaram com o povo de minha humilde nação. Não respeitaram ninguém, nem velhos, nem crianças, nem enfermos, nem mulheres, nada.
O meu povo era ordeiro, e por muito tempo foi submisso, fomos nos libertando aos poucos, desculpem-me por dizer em liberdade; primeiro a "Lei do Ventre Livre", depois a "Lei do Sexagenário", bem não me lembro qual veio primeiro e finalmente a "Lei Áurea".
Mas qual foi o pecado nosso em termos nascidos negros ? Pecado do qual até agora não conseguimos perdão...
A ira até agora de nossos antigos donos ainda é implacável. Estamos aqui contra a nossa vontade, pois fomos seqüestrados e raptados de nossa terra natal, com suspeita de cumplicidade dos nossos irmãos, sem nunca mais termos ao menos uma esperança de lá voltar. Outros já nasceram aqui e só conheceram a nossa terra natal através de nossos cânticos de saudades.
Bem logo após termos tomado conhecimento que a Princesa Izabel, num ato de rara bondade nos havia libertado, isto já passado dois anos após, nos descuidamos em andar pelas matas, quando nos descobriram e nos seguiram até o nosso quilombo.
Numa ação de grande covardia, nos atacaram enquanto dormíamos. Meu Deus que tragédia. Meu povo que lutar não sabia, pois éramos todos treinados em afazeres de fazendas e só sabíamos empunhar ferramentas agrícolas. Levantamos aturdidos e ainda zonzos de sono e caímos nos facões e tiros de buquamartes, dos emboabas que gritavam:
- Toma negros a liberdade dos imperiais...
Era bem diferente da liberdade que sonhávamos. Queríamos andar como os brancos, trabalhar como os brancos, amar como os brancos...
Na liberdade deles, encontramos nas mãos deles a nossa morte.
Eu ainda muito ferido, tive forças para subir no alto de uma colina, observando de lá a chacina contra a minha nação. Depois de muito sofrer, muito desespero, morri...
Algum tempo depois me via flutuando até onde minha vista alcançava, voava de um lado para outro, subia, descia numa incrível velocidade, custei a compreender que não havia morrido, mas sim desencarnado. Dependi de muito auxílios, até compreender que a minha missão continuava.
Tentei então reorganizar meu povo, observando que ali não mais estavam. Não sabia onde procurar até quando alguém me sugeriu que esperasse a data de aniversário da Abolição.
Reunimo-nos todos então e repetimos sempre nessa data nossas reuniões, agora além de nossos inimigos desencarnados do passado que até hoje nos perseguem, descobrimos que continuamos mais escravos do que nunca, pois o meu povo ignorante, inculto, atrasado. Somos levados por promessas materialistas dos brancos vivos e desencarnados (incluir aí, mamelucos, mulatos, índios, e porque não negros) ainda mais maliciosos e também negros descendentes de outros quilombos e também do nosso, mas os que não tiveram mesma má sorte que nós, mais possuem a mesma ambição materialista dos brancos e outros, como aquela da liberdade que nós tínhamos.
Portanto, a única coisa que nos resta é um pedacinho de esperança de que a Princesa Izabel da espiritualidade venha nos libertar de quase dois séculos de lágrimas, de sofrimento e que nos liberte dessa nova escravidão de sermos eternamente:
“Nego Veio”
“Pai Tomé”
“Pai João”
Goiânia, 13 de maio de 1981.
"Z U M B I"