GRANDE SERTÃO DE GUIMARÃES ROSA


Um silêncio de parar o ritmo
Uma cidade quase devagar
Uma vida quieta de jeitos e modos
Uma história que se tira do lugar.
 
Numa estreita estradinha de terra
Passam o cachorro e o tropeiro
Os chocalhos dos animais entoam
Com passos cegos rumo ao celeiro.
 
As mulheres, em casa, ocupadas
Doces na panela, fogão a lenha
Frutos no pomar, no quintal
Um tempo cheio de vida da casa velha.
 
A força da mulher em cima da “rudía”
Traça as ruas e a varanda de tardinha
Se o cavalo fica a pastar
Vai embora toda a grama que tinha.
 
Todos em volta dos velhos e suas violas
Encantando a lua calma e noturna
A Igreja no pé da serra, “inriba” da ribanceira
O ônibus velho quase que não sobe a ladeira
 
Se faltam a escola e a modernidade
A cerca de arame ainda insiste
Uma cadeira em frente da casa branca
De pau-a-pique, e o seu cachimbo persiste.
 
As flores saindo no final da tarde
Revelam que o mês não importa, se é primavera
O garimpo e sua força secular,
Depois a draga, antes a peneira era.
 
A mão velha caleja o vinha
E restaura a sua própria história
A estrada do sertão de outrora
Veste o seu jegue com a “cangaia”
 
O rio por esses lados é maior
E se desce da serra em forma de cachoeira
Forma com seu afluente um ouro
Vendo surgir a terceira beira.
 
Grande Sertão de Guimarães.
Onde a visita do mar é por terra.
Cidade pequena, vida grande
Ali mesmo se encerra.