O SUMIÇO DOS POEMAS

(para Helena Dummer Duarte, em Camaquã/RS)

“Preciso primeiro encontrar a pasta, pois estamos redecorando a casa. Um dos motivos que me levou a afastar-me da poesia foi o fato de um amigo ter pedido meu caderno, onde havia todas as minhas poesias, as quais eu já havia organizado e corrigido para publicar. Mas, quem sabe com o contato renovado com meus amigos poetas, eu venha a me envolver novamente com a poesia. Mas não é fácil você ficar, de repente, sem nenhum poema seu. Lembro alguns trechos de algumas, mas na íntegra jamais poderei revê-las. Eu havia emprestado o meu caderno com as poesias corrigidas, para que ele pudesse mandar uma para a menina pela qual ele estava apaixonado na época. Mas águas passadas não movem moinhos. Beijos. Helena.

Pelo Orkut, 03Jun2008, 15h12min.”

Não te apoquentes com a eventual perda de textos. Os poemas de juventude, normalmente são meros recados de amor e dificilmente chegam à eterna Poesia, a não ser que o autor seja um inveterado leitor, que é um fato raro de ocorrer.

Além do mais, os poemas adolescentes quase sempre são textos em que ainda não correu a prática do segundo momento de criação, a TRANSPIRAÇÃO, na qual predomina a intelecção, enquanto num primeiro momento só existiu a INSPIRAÇÃO.

Nesta fase, a materialidade da Poesia é passível de ser encontrada ainda em poemas embrionários. Isto se pode constatar nas obras iniciais de bons poetas como Neruda, Vinicius e Cecília.

Normalmente os novatos ficam somente na inspiração e o texto é bonito, mas não resiste ao tempo. Há incontáveis casos em que o próprio autor os renega, na maturidade, acaso se mantenha interessado na literatura.

Mario Quintana – durante quase toda a década de setenta – invariavelmente jogava ao cesto do lixo da redação do Correio do Povo os poemas que nasciam "nanicos", só pra ter o prazer e o desafio de reescrevê-los, dizia.

E César Pereira, também poeta e colaborador de Nilo Tapecoara na secção “DO BRIC À BRAC DA VIDA”, vivia a recolhê-los para o seu arquivo pessoal. Hoje, mais do que nunca, o acadêmico César sabe que aqueles textos não são “poemas inéditos pra serem editados após a morte de seu autor”, e, sim, poemas natimortos.

Aproveita os pedaços de textos que tens de cor e passa a recriá-los. Em poesia, o desafio é vencer pela insistência e pelo talento estimulado pela leitura de bons autores.

A posteridade não perdoa a forma imperfeita.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/1019594