Perdoa agora!
Guardar rancor faz mal à saúde
O Dr. Fred Luskin (doutor em Aconselhamento Clínico e Psicologia da Saúde pela Universidade de Stanford) é um dos criadores e diretor do Projeto para o Perdão da mesma Universidade. Ele escreveu o livro O Poder do Perdão, que traz o subtítulo Uma receita provada para a saúde e a felicidade. O livro foi traduzido para o português e já está disponível nas livrarias há um bom tempo. Fui presenteado com essa preciosidade. Na capa uma indicação bem peculiar: Guardar rancor faz mal à saúde.
Por impossível no pequeno espaço desta coluna, limito-me a citar os capítulos da obra para que o leitor possa ter uma idéia didática do conteúdo do livro. São três partes: Como nasce uma mágoa, O perdão e O poder do perdão. Cada capítulo, por sua vez, desdobra-se em diversos itens.
No final do livro, já à página 244, o autor apresenta o subtítulo As nove etapas para o perdão. Dentre os itens, destaco o final do item 8: Em vez de enfocar seus sentimentos feridos e, desse modo, conceder poder sobre você à pessoa que o fez sofrer, aprenda a procurar amor, beleza e bondade ao seu redor.
Só tenho uma crítica ao livro: em nenhum momento ele citou o exemplo maior de perdão, e mesmo os ensinos todos envolvendo a questão, trazidos e deixados por Jesus de Nazaré. Que pena. Talvez sob pena de apresentar um trabalho sob ótica científica, esqueceu-se de considerar que os ensinos e a vivência em si mesmo do perdão aos algozes, é também atitude de ciência e sabedoria, como autor defende no livro.
Tais considerações nos surgiram à mente depois de nos depararmos com bela página que leva o título que usamos no presente artigo. A página está assim composta: Não te detenhas! Torna à presença do companheiro que te feriu e perdoa, ajudando-o a recuperar-se. Reflete e ampara-o! Quantas dores e quantas perturbações lhe vergastaram a alma, antes que a palavra dele se erguesse para ofender-te ou antes que o seu braço, armado pela incompreensão, deferisse contra ti o golpe deprimente? Guarda a calma e auxilia, sem cessar. Mais tarde, é possível que não possas, por tua vez, suportar o horrendo assalto da ira e reclamarás, igualmente, o bálsamo da alheia compreensão. Retorna ao teu lar ou à tua luta e espalha, de novo, a bênção do amor, com todos os corações que jazem envenenados, pelo fel da crueldade ou pela peçonha da calúnia.Não hesites, porém! Perdoa agora, enquanto a oportunidade de reaproximação te favorece os bons desejos porque, provavelmente, amanhã, o ensejo luminoso terá passado e não encontrarás, ao redor de ti senão a cinza do arrependimento e o choro amargo da inútil lamentação.
O assunto é bem propício aos desafios da atualidade, porque outra página bem apropriada nos leva a pensar mais sério no assunto. Observemos bem o que diz Albino Teixeira na reflexão O que mais sofremos. O que mais sofremos no mundo – Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la. Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento. Não é a doença. É o pavor de recebê-la. Não é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar. Não é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros. Não é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoísmo. Não é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos outros. Não é a injúria. É o orgulho ferido. Não é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres. Não é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências. Como é fácil de perceber, na solução de qualquer problema, o pior problema é a carga de aflições que criamos, desenvolvemos e sustentamos contra nós.
Percebemos, com clareza, que nós mesmos somos os causadores das infelicidades e atropelos que sofremos. Perdoar, por sua vez, é um ato inteligente, que nos liberta de outras ansiedades e perturbações que nem precisamos enfrentar. Para quê guardar mágoa. É melhor perdoar! O assunto comporta outras inúmeras considerações. Mas fica para outra vez...