SAMUEL

Era um dia comum de verão na cidade de Boa Vista, quando aquele garotinho em sua bicicleta de aproximadamente 7 anos bate em meu portão, perguntando se eu poderia lhe arranjar uma garrafa de água bem gelada, pois a sua família venezuelana tinha acabado de chegar da Venezuela e ainda não tiveram a oportunidade de comprar uma geladeira.

Com o passar do tempo, eram cada vez mais frequentes as tuas idas atrás de garrafa de água gelada, foi quando eu perguntei se não gostaria de entrar para comer algo.

Samuel, desde então, você passou a fazer parte da minha vida, da minha casa e da minha família. Você começou a me chamar de tia e eu adorava, você era tão carinhoso comigo.

Às vezes, quando você estava quietinho, pude observar em seu olhar distante, tanta tristeza e sofrimento, e pude imaginar o quão difícil estava sendo a sua vida de migrante venezuelano, principalmente a sua, uma criança de 7 anos, pois tinha que se adequar à vida dos adultos brasileiros e venezuelanos, se adequar à sua nova realidade na escola, e lutar para não sofrer bullying, por suas vestimentas e o seu modo de falar.

Samuka, tentei ser a melhor tia para você enquanto esteve comigo, passeamos, fomos ao supermercado fazer as compras do mês (e particularmente você adorava, porque sabia que iria ganhar alguns mimos), sentamos em uma lanchonete só eu e você, desfrutamos da presença um do outro, fizemos picnic, fomos a aniversários de familiares e amigos, nos permitimos ser felizes, do nosso jeito, a nossa maneira.

Samuel, hoje você deve ter uns 12 a 13 anos, se distanciou de mim, mas não por opção, mas sim por falta de opção, com tantas mudanças de casas e de bairros.

Espero, do fundo do meu coração, que você, Samuel, logo se torne um homem com seus valores e firmeza moral, e que você seja o homem mais incrível que possa existir nesse planeta.

É o que a sua tia de alma te desejará para sempre, a sua felicidade.

06 de setembro de 2024.