Meio

Pensei por muito tempo que eu amasse contradições. Mas cada dia mais entendo que amo o meio, as metades, os lugares de vida onde as coisas se encontram, e não são nem uma coisa nem outra, mas todas. É engraçado que pessoas mega organizadas me acham bagunceira, pessoas mega bagunceiras acham que eu tenho mania de arrumação. Já as mais conservadoras me acham uma insurgente, enquanto as mais revolucionárias me vêem como caretinha. Pessoas muito calmas costumam me considerar agitadíssima, já as mais inquietas acham que eu tenho muita paciência. Já as raríssimas que conhecem os detalhes mais duros da minha história enxergam em mim uma força da natureza, enquanto as que presumem, sem saber ou se interessar, me consideram agressiva. O mais engraçado disso tudo é que eu sou todas essas coisas, ao mesmo tempo. E a única coisa que realmente me maltrata é me pressionar pra ser uma ou outra. Ah, que disperdício, né? Ser um pouco de tudo e tentar trocar isso por tão menos. A gente pende pra cá, pende pra lá, ora ponte suspensa, ora puro concreto. Também é parte do todo, quando os momentos dos ciclos pedem que a gente visite os extremos da vida, como as estações o fazem, nos fazem. Eu acho que somos todos muito mais cernes, pontos de encontro, metades inteiras. Sonhos uns dos outros. Um processo e uma passagem, um meio pelo qual e de onde, apoiados em nós mesmos, podemos fechar os olhos e ver todos e cada um, não em cada lado, mas convergindo. Desejo que eu me encontre no meio disso tudo, e você também, e NÓS, os laços.