Não viver às pressas (*)

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Saber dividir o tempo é saber desfrutar das coisas. Para muitos a vida é longa, e a felicidade curta. 

Malogram os bons momentos sem gozá-los e depois querem voltar a tê-los quando já não os têm. 

Vão à frente, apressando o tempo com seu comportamento precipitado. Querem devorar em um dia o que tarda toda uma vida. 

 

Adiantam-se à felicidade, comem-se os anos futuros e com sua enorme pressa acabam logo com tudo. 

 

Mesmo o desejo do saber deve ser moderado para que o aprendizado seja fecundo. 

 

Há mais dias que alegrias: para o gozar, a calma; para o trabalhar, a energia. 

 

Os feitos são bons quando já feitos; o contentamento é bom quando perdura. 

 

                                        ***

 

Saber tolerar os tolos (*)

 

Os sábios sempre foram intolerantes porque muita ciência traz muita impaciência. A sabe- doria dificilmente se satisfaz. 

 

A regra básica da vida é a tolerância. Se há que suportar todas as tolices, é preciso ter muita paciência. 

 

Por vezes temos de tolerar mais da parte daqueles de quem dependemos, fazendo assim um grande exercício de autodomínio. 

 

Nasce da tolerância uma paz inestimável, que é a felicidade terrena. 

 

E quem não tiver ânimo para isso siga o provérbio "ou aguente ou se ausente", desde que seja capaz de tolerar a si próprio. 

 

                                       ***

 

Evitar intimidades na conversa. (*)

 

Seja para usá-la, seja para permiti-la, quem se dá a intimidades perde a posição superior 

proporcionada pela sobriedade e perde também a consideração que gostaria de receber. 

 

Os astros do céu não se envolvem com a humanidade e conservam seu esplendor. 

 

O caráter de ser divino exige decoro; sua humanização lhes traria o desprezo. 

 

As coisas humanas quando se tem mais valem menos; a comunicação revela os defeitos que o recato encobre. 

 

Expor a intimidade não convém a ninguém com ninguém: nem com os  superiores, pelo perigo; nem com os inferiores pela falta de decoro; e menos ainda com os tolos, pessoas insolentes, que veem nos favores apenas  o pagamento de obrigações. 

 

Intimidade rima com vulgaridade. 

 

                                      ***

 

 

(*) Série A Arte da Prudência- Baltasar Gracián 

 

Baltasar Gracián foi um jesuíta e escritor espanhol, mais conhecido por sua obra "A Arte da Sabedoria Mundana" (em espanhol, "Oráculo Manual y Arte de Prudência"). Este livro, publicado no século XVII, oferece uma coleção de aforismos e conselhos sobre como navegar pelas complexidades da vida e das interações sociais. As escritas de Gracián são frequentemente consideradas uma fonte de sabedoria e orientação sobre tópicos relacionados ao comportamento humano, ética e pragmatismo.