Esvazie-se e receba
Infelizmente, muitos buscadores da Luz o fazem com a mente cheia de ideias preconcebidas, muitas vezes, resultantes de inúmeras e frustrantes experiências religiosas, místicas ou esotéricas, e não a esvaziam para receber os novos ensinamentos pelos quais estão ávidos.
O resultado, não raro, é a decepção, o abandono dos estudos e da própria busca.
Para que qualquer ensinamento cumpra melhor seu propósito é preciso que a mente esteja vazia de pré-conceitos e pronta para receber e assimilar novas ideias e valores. Ou seja, aberta à concepção e recepção de novos conteúdos e valores. Em hipótese alguma ela deve estar fechada em suas “verdades”. É preciso que duvide daquilo que sabe ou conheceu até então.
É triste ver como algumas pessoas demonstram estar tão cheias e agem como se não tivessem mais nada a aprender; pessoas que têm sempre “aquela velha opinião formada sobre tudo”, como cantava Raul Seixas. Estão fechadas e não se abrem, sequer, momentaneamente, para aceitarem o não saber.
Um professor universitário visitou Nan-in, o mestre zen, para perguntar sobre o zen. No entanto, em vez de ouvir o mestre, o professor se limitou a falar sobre as próprias ideias.
Depois de ouvir por um tempo, Nan-in serviu chá. Encheu a xícara do visitante e continuou a servir o chá. O líquido transbordou, encheu o pires, caiu nas calças do professor e no chão.
Foi então que o professor explodiu:
--- Não está vendo que a xícara encheu? Não cabe mais nada!
Nan-in respondeu calmamente:
--- Isso mesmo. Tal como essa xícara você está cheio das próprias ideias e opiniões. Como poderei mostrar-lhe o zen se você não esvaziar sua xícara primeiro?
Esvaziar a xícara significa abrir espaço para que novos conhecimentos possam surgir, sejam eles de natureza espiritual, moral ou intelectual.
Não é demais lembrar que quem quer que almeje uma elevação espiritual deve estar com a mente vazia de ódios e ressentimentos. É o que ensina o Vendanta.
Swami Prabbavananda em “O Sermão da Montanha segundo o Vedanda” ensina que “se uma pessoa orgulha-se do que sabe, da riqueza, da beleza ou da linhagem; se tem ideias preconcebidas do que seja a vida espiritual e de como deverá ser ensinada – então sua mente não está receptiva aos ensinamentos mais elevados”.
E conclui, citando o Bhagavad-Gita:
“As almas iluminadas que perceberam a verdade hão de instruir-te no conhecimento de Brahma (o aspecto transcendental de Deus), se tu te prostrares diante delas, as interrogares e as servires como um discípulo”.