DIAS DE HOJE

DIAS DE HOJE

Manhã de sábado pandêmico, preguiçosa e ensolarada, olho minha rua e observo como as coisas mudaram. No ponto de táxi, três carros onde normalmente havia sempre sete e mais outros aguardando sua vez de ocupar a fila de embarque dos passageiros. As poucas pessoas que passam mascaradas e muitas olhando para baixo parecem emitir medo e preocupação. Como um mero espectador, me parece estar em um intervalo entre dois atos de uma peça teatral ou aguardando o segundo tempo de um jogo de futebol. Naturalmente surge uma expectativa, próxima à ansiedade, de não sentir a “falsa euforia de um gol anulado” como na música de João Bosco. Será que os acontecimentos antes da covid, voltarão a acontecer pós pandemia, se é que haverá, ou o que vivemos era apenas a sala de espera para a entrada desse nefasto personagem na vida humana? Até quando essa insegurança que sair à rua nos traz vai nos assolar? Ir à feira, um arraigado costume de nosso povo, passou a ser risco de vida. Estamos agregando novos hábitos em nossas vidas, agora obrigatórios, que sempre ouvimos dos médicos e de nossos pais, como lavar sempre as mãos e se afastar de pessoas doentes. Um céu limpo com sol era tudo que as mães esperavam dos finais de semana para levar suas crianças à praia, besuntadas de protetor solar, com bonés na cabeça, bóias de cavalinho à cintura. Por sua vez os pais com esteiras, cadeiras de praia, guarda-sóis, isopor repleto de cerveja e um pouquinho de água para as crianças. Eu observava os movimentos dos pequenos indo e voltando em volta dos adultos, ouvia seus gritos e os pais ralhando(“-Sai da rua moleque!-Bota o boné!-Não mexe com sua irmã!”). As moças, em grupo, iam trocando confidências com as amigas. Grupos de garotos barulhentos em suas bicicletas. Eu curtia essas cenas do cotidiano. Hoje sinto muita falta delas, na rua passa uma pessoa de cada vez ou, quando muito, duas ou três mascaradas. Infelizmente não fomos capazes de inventar um creme que nos proteja desse indesejável mal provocado pelo Novo Coronavírus e suas variantes, ainda. Então recordo das pestes, guerras, cataclismos e similares ocorridos e pelos quais sobrevivemos. Não será dessa vez, com certeza.

Paulo Miorim, 01/05/2021

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 01/05/2021
Código do texto: T7245744
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