TUDO O QUE É DEMAIS É PERVERSO

TUDO QUE É DEMAIS É PERVERSO

Por alguns jargões do dia muitos são impactados, ou seja, disparatados. Frases ocas, destituídas de conhecimento adequado. Por exemplo: “um dia de cada vez”, o que significa? Ser apressado demais? Aguardar as surpresas que a vida impõe? Outro: “Matar um leão em cada dia”, “se você não matar um leão a cada dia, amanhã serão dois” – significa enfrentar todos os desafios que vier à frente, ou, se deixar para amanhã, será mais difícil, terá que fazer muito mais. “Mais vale um Tatú na mão, do que dois voando” - Tatú não voa, mas a oportunidade pode passar, melhor é a que está na mão, pois se não decidir, já foi para o espaço. “Coruja que não gaba o toco, pau nela” – pessoas que elogiam demasiadamente outras – coisas de pais e filhos. “Deixa estar jacaré, a lagoa há de secar” – quando alguém tendo o suficiente se nega em repartir (roga uma praga), se secar a lagoa, morre o jacaré. Centenas de frases construídas pelo senso comum, surgem em cada momento, principalmente num país de gente criativa quanto a nossa. Passando tudo à limpo, falando a sério, é uma perversidade, podendo ser avaliado dentro da psicologia como “comportamento”, construções fantasiosas e de certa forma prazerosas e momentâneas.

Portanto, não se trata de censura ou julgamento, “faz parte” do dia a dia do brasileiro. Em certos momentos se constituem em brincadeiras e diversões, e quando encaradas a sério, podem tornar-se em perversão. Diz-se: que o indivíduo é perverso, quando invade a área do outro, podendo causar sofrimento. Pois bem, tudo isso, preambularmente, para pesar na balança da justiça a perversidade de tantos quantos nos cercam no dia a dia de nossas vidas. Se o que é rico, ainda busca maior riqueza e não consegue ver o seu próximo, tornar-se perverso, ganancioso, desumano, malvado, egoísta. E quanto ao dinheiro, diz o provérbio: “a raiz de todos os males”. O dinheiro pode promover muitas coisas boas, mas quando usado para a corrupção, promove a desgraça, suplanta ao bem promove o mal. Diz-se: “quem muito melado come, se lambuza”, no momento certo a sujeira aparecerá, “nada fica encoberto aos olhos do justo Juiz”. Tudo o que é demais é perverso.

Sendo uma questão comportamental, o equilíbrio em todas as coisas deve ser considerado. Se come demais, pode estar propiciando que surjam doenças; se não reparte o pão, torna-se miserável, injusto com o seu próximo; se não desgruda do celular, além de viciado, será vítima de algum transtorno psicológico; se os pais não educam os filhos, de estranhos receberá educação perniciosa; se a mulher noveleira não desconfiar que está sendo induzida a uma fantasia, torna-se objeto de manipulação, e desapropriada de valores éticos e morais necessários para a condução de uma vida decente perante a família, a sociedade e a bem do espírito; se o ladrão rouba os pertences alheios, porque tem que matar a vítima?; se o agiota é um explorador do inocente, porque reclama a perda, se é um fora da lei? Se um juiz vende uma sentença, não lhe pesa a alma por ter sido subornado a preço do juízo eterno, junto ao Diabo e seus anjos? Se a justiça é do ladrão que rouba ladrão, ambos terão roubados suas consciências, sem nada construir nas suas perversidades.

Que mais dizer, se não do “João do pulo” cujas longas pernas lhe fizera ser o melhor saltador a longa de distância do mundo (salto triplo), e num repente perder exatamente a perna? Aqui uma fatalidade, porém, uma imposição que a vida lhe surpreendeu. Lutou bravamente por manter-se em posição de vencedor, como alguém que queria viver, no entanto, o tempo não perdoou, muito do que pretendia havia ficado para trás – perverso acidente. Tudo o que é demais é perverso, mesmo que seja a dedicação de uma vida inteira na construção de um campeão, coisa que é comum no esporte. Assim é o cantor famoso que tendo a vida empurrada pela ambição do empresário, shows, sucesso, dinheiro, brigas, sexo fácil e por fim os trapos de uma vida perversa em que tudo parecia céu, terminar rendido como tantos iguais, tombado após uma batalha em que promoveu seu ego, sua ambição, e em muito casos, o legado de uma vida fútil. Poucos souberam a hora de reduzir a carga, conversar com o tempo e encontrar resposta para conduzir a vida segundo os propósitos do bem maior – a família, a vida, as pessoas, a brisa, o vento, o sol, a lua, as estrelas, os passarinhos, os bichinhos, os bichões, o papel, a caneta, os recados, a leitura, o ar puro, o respirar do espírito afagando a alma. Fora disso, é correr atrás do vento, é vaidade, é ser por demais perverso. 04\11\2020