Eu já tive COVID-19
Vou contar a minha contaminação com o COVID. Eu trabalhava na rede publica num posto de saúde e em julho me contaminei, mesmo com proteção e cuidados. No inicio sentia dores pelo corpo como gripe e muita febre o que me cansava e eu só queria dormir e não sentia vontade de comer, fiquei dois dias assim, fui no medico que prescreveu azitromicina, ivermectina, analgésico e atestado de 14 dias. Ai começou quadro de diarreia, náuseas constantes e cólicas. Não levou muito tempo após iniciar esses medicamentos que comecei a ter quadros de desorientação e dispneia, saturação baixa, taquicardia, sudorese ai eu não me lembro mais, sei que meus familiares me levaram correndo para o Pronto Socorro. Fui internada com uso de oxigênio e aguardando vaga na UTI, e lá fiquei 20 dias intubada com sonda de dieta e sonda vesical mais fraldas, não via nada, mas tinha pesadelos terríveis que pareciam ser a minha realidade, resisti não sei como, e acordei 20 dias depois num quarto sozinha sem saber o que acontecia sem conseguir me mexer com acesso central no pescoço, inchada com os punhos cheio de furos das coletas diárias de gasometria. Eu não sabia mais sentar, pouco mexia braços e pernas, era como se dentro de mim tivesse sido deligado os botões. Sentia pouco cheiro e só cheiro ruim, o gosto das coisas era tudo igual e desagradável, os sons de sirene e ambulâncias era com se tivesse um helicóptero na minha cabeça, eu não lembrava quantos anos eu tinha e para mim a sensação que eu estava ali a muitos meses. Levei 3 dias para comer algo e 5 dias para ficar em pé. No sétimo dia me deram alta do Corona vírus, já não tinha mais ele, mais tinha todas as sequelas que ele causou. Fiquei com enormes assaduras de usar fralda todo esse tempo, tive que aprender a andar a sentar a levantar a escovar os dentes e cabelos, e muita ajuda para tomar banho. Fiz fisioterapia por 1 mês em casa para voltar a ter domínio do meu corpo. Tive um monte de coisas e sintomas e dificuldades, e hoje com mais de 3 meses após a alta ainda tenho sequelas, muita falta de ar, momentos de fraqueza extrema e dores lombares. Fiquei mentalmente afetada, com medos, fobias, dificuldade em dormir, metade dos meus cabelos caíram. Hoje eu ainda não entendo direito o que aconteceu mais sei que sem a ajuda dos meus pais, irmãos, familiares, orações dos amigos e conhecidos e dos profissionais da saúde eu teria morrido sozinha na minha cama no meu quarto sozinha aos 43 anos de idade por um vírus que em algumas pessoas não é só uma gripinha.