ENFRENTAMENTO
ENFRENTAMENTO I
Lança no ar o teu suor sem mágoa,
não foi do sangue hipertensa redução,
rugindo embora desde o coração,
desritmado em seu rugir de frágua.
Mas cada espectro enfrenta firmemente,
que os prepotentes enfrentados cederão
e mil temores se desvanecerão
quando souberes encará-los frente a frente.
Fugir deles, ao contrário, é desatino,
pois cada vez mais expandem-se fantasmas
e ao fim da tarde já te esmagarão.
Ser derrotado talvez seja o teu destino,
porém não morras de impotências pasmas,
morre de pé, enfrentando um batalhão!
ENFRENTAMENTO II
Algumas vezes os problemas se acumulam
e não consegues dar-lhes vencimento,
mas o importante é investir cada momento,
com teimosia enfrentando os que te açulam!
Quando teus ossos em dores mais ululam
faz novo esforço e lhes darás aquecimento,
transforma em atos teu padecimento,
mata um a um os insetos que pululam!
Tuas aflições são quais nuvens de mosquitos:
se não tens inseticida, um mata-moscas
pode, aos poucos, suas coortes reduzir.
O que não podes é permitir que os gritos
te ensurdeçam ao redor qual nuvens foscas
que assim te possam totalmente recobrir!...
ENFRENTAMENTO III
Quando o escultor inicia uma escultura
não se acovarda ante o bloco de granito
ou de mármore ou de pórfiro. Acredito
que ali perceba escondida a forma pura.
É bem verdade que na presente conjuntura
qualquer medíocre adota por seu fito
engazopar esse círculo infinito
dos falsos críticos sem qualquer lisura.
E assim emprega o cinzel em martelada,
sem sequer dar-se ao trabalho de polir
e como arte impunge os fragmentos,
com falcatruas a fortuna acumulada
dos tolos pode facilmente adquirir,
lascas de pedra vendendo por portentos!
ENFRENTAMENTO IV
Mas se for de talento esse escultor,
irá buscar a beleza encarcerada
que no bloco puder ver encerrada,
golpe por golpe cinzelando com ardor.
E vai a pedra cedendo o seu teor,
uma lasca por vez, até que a ansiada
imagem pura à luz seja revelada,
não se esculpe com um só talho de vigor!
E assim é a vida. Cada golpe abre caminho,
um obstáculo sendo aos poucos desviado,
quando o problema com acúmen é enfrentado.
E de repente, após o esforço comezinho.
põe-se em ordem o baralho de teu fado,
naipe por naipe em sequência colocado.